Localizado no acesso ao Morro do Pinto, no centro da cidade do Rio de Janeiro, o Bar do Omar deixa claro o seu posicionamento político para os consumidores: na varanda, um grafite com a frase “Lula Livre” feito com as cores da bandeira LGBT estampa a parede. Pelas redes sociais, o estabelecimento avisou os clientes que o cupom fiscal seria emitido com uma frase criticando o ministro da Justiça Sergio Moro – a postagem viralizou.
“Um bar pode ter opinião política, um juiz não. Moro lesa-pátria”, vem escrito no cupom fiscal aos consumidores, seguida pelas hashtags “Lula Livre”, “Bar do Omar” e “Democracia”. A crítica foi feita após o vazamento dos diálogos pelo site The Intercept Brasil do ex-juiz com o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato.
A opinião política começou a aparecer na família com a criação do Microempreendedor Individual (MEI) durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando o bar saiu da irregularidade. As políticas de inclusão do petista também fizeram com o filho do dono do local fizesse faculdade, conta Omar Júnior. Entretanto, o posicionamento só refletiu nas ações do estabelecimento a partir da prisão do Lula em 2018.Em entrevista a VEJA, o filho do fundador Omar Monteiro Júnior, de 29 anos, revela que, há 20 anos, o bar não surgiu com uma pegada política. Para a família Monteiro, foi uma tentativa de sair da pobreza que enfrentavam. Pela sua localização, o local era voltado à comunidade e, inicialmente, funcionava em situação irregular, sem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas).
A primeira postagem nas redes sociais que repercutiu — positiva e negativamente — foi quando o bar ofereceu um desconto de 10% para os clientes que pagassem a conta com notas carimbadas com o rosto do Lula. “Virou um ícone”, considera Omar Júnior, que é o responsáveis pelas mídias do estabelecimento. Com a ação, o bar cresceu, expandiu para fora da comunidade e “pessoas de todo o Brasil” frequentam o local.
“Primeiro, a gente recebeu muita crítica, xingamentos. Foi um ódio bizarro. Conforme fomos assumindo a identidade de um bar de esquerda, muitas pessoas começaram a se sentir à vontade no local. Você nota um aumento na frequência porque, depois desse ódio todo que foi instaurado, é normal as pessoas procurarem lugares onde elas se sentem mais a vontade para ser quem são. Muita gente conhece o bar e acha que é marketing. É só conhecer a nossa história para ver que não é. É um posicionamento moral”, afirma Omar Júnior.
Mesmo apoiando um partido de oposição ao atual governo de Jair Bolsonaro, Omar Júnior diz que não quer que o bar se torne uma ferramenta de crítica ao governo e, sim, de transformação social. De acordo com o “faz-tudo” do estabelecimento, como ele se intitula, a família leva com bom humor e brincadeiras os posicionamentos e considera legitimo a eleição de Bolsonaro. “Ele foi eleito com o voto popular e a gente respeita isso.”
Atualmente, a família responsável pelo Bar do Omar é composta por quatro pessoas: o casal-fundador Omar Monteiro e Ana Helena e os filhos Mariana e Omar Júnior. O filho revela que a intenção não é aumentar muito o público porque o negócio “é estável” e tem uma frequência “muito boa”.
“O mais importante disso tudo é, de fato, a utilização do bar como forma de transformação da sociedade. Para as pessoas se conscientizarem, incentivando um debate saudável, sem ofensas, sem hostilização. O mais proveitoso não são as pessoas que vão vir para o bar e, sim, as pessoas que, diante do que a gente faz, percebem e pensam: ‘eles são um exemplo para ser seguido. Eles são de esquerda, mas são tolerantes'”, conclui Omar Júnior.
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