Nascida em uma família de imigrantes italianos em São Bernardo do Campo, ela teve uma origem humilde, como o marido. Seu pai era agricultor e teve 15 filhos. Ainda criança, já trabalhava como babá das sobrinhas do pintor Cândido Portinari. Aos 13 anos, virou embaladora de bombons numa fábrica de doces e, com isso, teve de deixar a escola. Seis anos depois, estava casada com Marcos Cláudio, um taxista, que morreu em uma tentativa de assalto quando Marisa estava grávida.
Aos 24 anos, em 1974, ela foi ao sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema para buscar um carimbo para liberar a pensão do marido, o que naquela época podia ser feito em qualquer sindicato. Foi atendida por um barbudo, de língua meio presa. Era Lula. Dirigente do Serviço de Assistência Social do sindicato, ele orientara seus funcionários a avisá-lo quando chegasse uma viúva jovem para ser atendida. Ele, também viúvo em uma história trágica (a primeira mulher dele, Lourdes, morreu no parto junto ao filho), se interessou. Para convencê-la de que também era viúvo, deixou, de propósito, cair um documento pessoal, que comprovava a informação. Ele ainda insistiu num encontro por algum tempo e até botou um namoradinho que ela tinha na época para correr. Sete meses depois, estavam casados. Ela virou sua "galega".
Lula e Marisa Letícia em outubro de 2008, em Roma. MARIO DE RENZISEFE
Juntos tiveram três filhos: Fabio Luís, Sandro Luís e Luís Cláudio. Do primeiro casamento de dona Marisa nasceu Marcos Cláudio, nomeado em homenagem ao pai, que acabou adotado pelo ex-presidente.
Discreta, dona Marisa desempenhou um papel de bastidores nas duas gestões presidenciais de seu marido. Diferenciou-se de sua antecessora, Ruth Cardoso, na função de primeira-dama, ao preferir não exercer qualquer cargo filantrópico do Governo. Esteve ao lado de Lula também durante todo o tratamento de câncer a que ele foi submetido, em 2011. Dizia-se, na época, que ela controlava quem podia e quem não podia visitá-lo, para evitar que ele se cansasse.
Nos últimos anos, viu-se envolvida no turbilhão da Operação Lava Jato. Há quatro meses, tornou-se ré em duas investigações, ao lado do marido. Era acusada de, ao lado dele, ocultar um tríplex no Guarujá, que teria sido reformado pela construtora OAS, e também de ter sido beneficiada pela compra de um apartamento em São Bernardo do Campo, pela Odebrecht, mas que não estão, oficialmente, em nome deles. Ela ainda é citada em investigações relacionadas a um sítio em Atibaia, para o qual teria comprado dois pedalinhos, de 5.600 reais no total. As acusações a abalaram e causaram indignação no ex-presidente Lula. “Se eu pudesse, dava um iate para ela”, dizia ele, que frequentemente chorava ao falar sobre o assunto. Em março do ano passado, ela teve vazada uma conversa telefônica tida com seu filho, Fábio, em que se mostrava indignada com os protestos contra o Partido dos Trabalhadores, meses antes do impeachment de Dilma Rousseff.
Nesta sexta-feira, perdeu a vida aos 66 anos, após ficar internada por dez dias no hospital Sírio-Libanês, no centro de São Paulo. Foi vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em sua casa, em São Bernardo do Campo. Seus órgãos serão doados.
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