Reunir oito candidatos para vender seu peixe na TV por pouco mais de duas horas mostrou-se uma cilada para os menos experientes diante das câmeras. Na divisão do bolo servido ontem no debate entre os aspirantes à Prefeitura de São Paulo, na Band, o conjunto da obra beneficiou mais as falhas do que os méritos - nem os diminutivos presentes (Soninha, Paulinho) favoreceram o tom engessado.
O número de participantes conspirou contra o duelo de ideias, e feliz foi quem soube falar de forma direta, com raciocínio contemplado por frases feitas de começo, meio e fim, sem perder o foco do assunto levantado a cada questão. Mais importante, sem ser interrompido pelo mediador com aquele constrangedor aviso: "Seu tempo acabou".
No quesito discurso - e falamos aqui da forma, não do conteúdo -, Fernando Haddad (PT) tem muito a aprender. Não basta iniciar a resposta de cada pergunta com o clássico "obrigado por me fazer essa pergunta", como mandam as regras de mídia training. É preciso driblar o vício de um vocabulário professoral, pouco atraente aos ouvidos de um público que mal o conhece.
Termos como "organismos internacionais", "mecanismos" ou "imposto inteligente" podem e devem ser evitados em um debate em TV aberta. O verbo "onerar" bem pode ser trocado por qualquer coisa que cite diretamente o bolso do eleitor. E, em vez de falar "tenho concordância", por que não dizer simplesmente "concordo"?
Falta a Haddad o aprendizado que sobra a José Serra (PSDB), homem de muitas eleições e com larga experiência em debate político, e mesmo a Gabriel Chalita (PMDB), menos treinado que o outro para tais ocasiões, mas com algum histórico em televisão.
Covardia é traçar comparações entre o estreante Haddad e a dupla Soninha (PPS) e Celso Russomanno (PRB), ambos criados e alimentados nos estúdios de televisão há anos. Não há palavra jogada fora no discurso de nenhum dos dois. Tudo é alinhavado, da primeira à última linha. O mesmo não se pode dizer de Paulinho da Força (PDT), que, candidato em outras ocasiões, já deveria estar mais atento ao foco da pergunta. Até em mudar a Constituição Federal o candidato falou.
No quesito figurino, tivemos o fim da ditadura da gravata vermelha, mas ao custo de um laranja gritante na fachada de Paulinho - outro contraste para o seu mau desempenho verbal. Nos demais, prevaleceu a neutralidade na composição de ternos, camisas e blazer - no caso de Soninha. Não vamos mencionar o preto exacerbado da tintura de cabelos e bigode de Levy Fidelix, item que chamou mais atenção do que seu discurso para os frequentadores do Twitter.
A Band não tentou reinventar a bola. Em raros momentos, seguiu o modelo de divisão de tela para mostrar a reação de um candidato à resposta de outro à sua pergunta. Na arte, levou à voz do locutor oficial da casa, com arte estampada na tela, o tempo válido a cada candidato para perguntas, respostas e as regras de revezamento. Ao poupar o moderador, Fábio Pannunzio, de tal papel, tornou o modelo mais claro para o espectador e até para os participantes.
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