Depois de enfrentar a crise dos
flats nos anos 90, ensaiar uma recuperação e esbarrar na crise de 2008, o
mercado hoteleiro no Brasil deve enfim experimentar uma virada este
ano. Cinco das maiores redes de hotéis do País pretendem captar cerca de
R$ 3,5 bilhões para desenvolvimento de empreendimentos e aquisições.
Nos
últimos meses do ano passado, o que se viu foi uma corrida das
administradoras de hotéis para anunciar projetos e atrair a atenção de
investidores. Uma pesquisa da consultoria Ernst & Young, divulgada
em dezembro, dá uma ideia da atenção dispensada por fundos
internacionais a esse segmento. Um grupo de 60 investidores sinalizou a
intenção de aplicar US$ 1 bilhão no Brasil para aquisição e
desenvolvimento de hotéis nos próximos dois anos.
O interesse dos
fundos internacionais indica uma nova onda de investimentos para o
setor, que cresceu discretamente na última década. 'Até agora, era muito
mais interessante investir em imóveis do que em hotéis, por causa do
preço dos terrenos e do retorno dos investimentos', diz Cristiano
Vasques, sócio do escritório brasileiro da HVS, especializada em
hotelaria.
Entre 1999 e 2003, o País viveu um boom de novos
empreendimentos hoteleiros, mas o 'voo' não se sustentou. Nesse período,
em São Paulo, a oferta de quartos passou de 20 mil para 42 mil. 'E a
receita caiu a um terço do que era porque não havia demanda', explica
Vasques. Faz pelo menos quatro anos que nenhum hotel novo é construído
na capital paulista.
Parece que as grandes redes não estão
dispostas a repetir o erro. Estão de olho em cidades médias - onde a
oferta de quartos não chegou ao limite - e no segmento econômico, com
diárias capazes de atrair a nova classe média. As cidades sede da Copa
do Mundo são consideradas atrativas, mas não são prioridade. 'O evento
se restringe a um mês. O que está impulsionando o setor é o bom momento
da economia', diz Vasques.
O Grupo Chieko Aoki, controlador das
redes Blue Tree e Spotlight, faz planos de inaugurar seis novos hotéis
por ano nos próximos cinco anos, com aporte de R$ 680 milhões. 'Já
estamos em 70% das capitais da Copa', diz a presidente, Chieko Aoki. 'O
único lugar em que desejo entrar é no Rio de Janeiro, porque não temos
nenhum empreendimento lá ainda.'
Base da pirâmide. Hoje com 144
hotéis no Brasil, o grupo francês Accor pretende colocar em operação até
2013 mais 71 empreendimentos, que vão exigir R$ 1,2 bilhão. Quase 80%
deles são voltados para o segmento econômico. Com isso, a marca Mercure,
padrão quatro estrelas, deixará de ser a mais representativa em número
de hotéis, dando lugar à Ibis, com diárias até R$ 120. 'Há mais demanda
na base da pirâmide do que no meio e no topo', diz Abel Castro, diretor
adjunto de desenvolvimento Accor.
Outra estratégia do grupo é a
expansão da marca Formule 1 por meio de franquias, em cidades com
população entre 100 mil e 500 mil habitantes. O projeto prevê a
construção de 100 hotéis, ao custo de R$ 500 milhões.
Os
municípios menores, com até 200 mil habitantes, também estão no radar da
Brazil Hospitality Group (BHG), da GP Investimentos. A rede surgiu no
início de 2009, após uma fusão, e desde então tem se aproveitado da
pulverização do setor para crescer - três em cada cinco hotéis no Brasil
não pertencem às grandes redes. Em um ano, a BHG fez nove aquisições e
tornou-se a terceira maior rede do País, com 38 hotéis. A empresa fechou
2010 com a compra do Hotel Intercontinental, no Rio.
Segundo o
executivo financeiro Ricardo Levy, a BHG pretende captar mais R$ 300
milhões para atingir a meta de criar 2,5 mil quartos por ano até 2015.
Neste ano, a empresa deve estrear no desenvolvimento de empreendimentos.
'Nos deparamos com a falta de infraestrutura e de oferta em lugares em
que queríamos estar', explicou Levy. Ex-Light, com sete meses de BHG, o
executivo diz ter se assustado com o aquecimento do setor. 'Todo dia
alguém compra alguém. Estou me adaptando.'
Levy ainda estava se
inteirando do mercado, em outubro passado, quando a indústria hoteleira
nacional acompanhou uma negociação inédita. As redes Bristol Hotéis,
Plaza Inn e Solare se uniram para criar o grupo Alllia, com 40
empreendimentos. Até 2015, a rede quer dobrar o número de quartos para
7,5 mil, com investimento de R$ 1 bilhão.
Em novembro, a PDG
Realty, maior incorporadora do País, anunciou parceria com o grupo
Marriott para a construção de 50 hotéis Fairfield, bandeira mais barata
da rede. Antes do fim de 2010, o bilionário espanhol Enrique Bañuelos
também colocou os pés no mercado hoteleiro brasileiro. A Veremonte Real
Estate, empresa imobiliária controlada por ele, firmou joint venture com
a Gencom, fundo americano que atua na aquisição e gestão de hotéis.