GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer
Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

domingo, 4 de setembro de 2011

Polícia autua prefeitura por falta de licença e danos ambientais no Vale do Sol


A Polícia Militar Ambiental do Litoral Norte advertiu e multou, nesta quinta-feira, a prefeitura de Ubatuba por supressão de vegetação e retificação de curso d’água em uma área no bairro do Vale do Sol, Zona Oeste da cidade. Segundo o boletim da PM, além dos danos causados no local, a administração municipal ainda não tinha a licença devida junto aos órgãos competentes (Cetesb). A autuação embargou as intervenções na área e exigiu que a prefeitura obtivesse as documentações necessárias para a continuidade dos trabalhos.
O local fica no interior do bairro Vale do Sol e é considerado pela própria gestão ubatubense como Zona Especial de Interesse Social (Zeis). De acordo com a prefeitura, as intervenções no local estão sendo realizadas com o objetivo de realocar 56 famílias que atualmente vivem na beira do Rio Ipiranga, em área considerada de risco e de preservação permanente.
Em contato com o secretário de Cidadania e Desenvolvimento Social de Ubatuba, Claudinei Salgado, a prefeitura avaliou a atuação da PM Ambiental como arbitrária e adiantou que entrará com um mandado de segurança contra as advertências e multas estabelecidas.
Salgado explica que as intervenções da prefeitura estão baseadas em um legislação federal, que autoriza o licenciamento ambiental pelo município em Zonas Especiais de Interesse Social. “Essa foi uma lei aprovada pela União e que tem o objetivo de dar celeridade em processos de regularização fundiária e social. E, ao invés de termos o apoio do Estado neste importante tipo de política pública, encontramos uma atuação negativa que desprezou nosso trabalho”, afirma o secretário, alegando que a área em questão já apresenta ocupação indevida.
“O que eles apontam como retificação de curso d água foi a instalação de uma tubulação em um córrego onde essas famílias estavam despejando esgoto in natura. Estamos preparando o local para a construção de casas populares que tenham toda a estrutura de saneamento adequada e isso foi necessário”, argumentou Claudinei Salgado.
A prefeitura explica que buscará reverter as decisões na justiça e espera retomar os trabalhos no Vale do Sol o mais rápido possível.

Milagre

Deus colocou uma barra de ouro na cabeceira de um rabino, que quando acordou e viu o que Deus tinha feito ergueu as mãos para o alto e disse:

– Senhor, quem sou eu para receber esta dádiva?


E diante do silêncio de Deus, o rabino continuou:


– Quem sou eu para ser distinguido desta maneira?


E:


– Quem sou eu para enriquecer assim, da noite para o dia?


E disse mais:


– Quem sou eu, pobre de mim, para merecer um presente tão precioso, quando tantos mais necessitados do que eu não receberam?
E mais:


– Quem sou eu, Senhor, na minha humildade, para ser abençoado por este milagre?


E Deus ficou tão impressionado com os protestos reincidentes do rabino que falou:


– Talvez eu tenha mesmo me enganado, e essa barra de ouro seja para outro rabino...


Ao que o rabino escondeu a barra de ouro dentro da camisola, rapidamente, e disse:


– Quem sou eu para ser a prova de que Deus se engana?


PERFUMES
E tem a parábola do mendigo cego que todos os dias recebia uma esmola de uma mulher que passava, e que ele reconhecia pelo perfume. Cada dia um perfume diferente.


– Mmmm. Violeta – dizia o mendigo, depois de ouvir o tilintar da moeda no seu chapéu.


– Acertou – dizia a mulher.


No outro dia:


– Mmmm. Jasmim. Maravilha.


– Obrigada.


– Mmmmm. Rosa.


– Acertou de novo.


Todos os dias a mesma coisa.


– Mmmm. Lírio.


– Mmmm. Cravo.


– Mmmmm. Dracena.


Um dia a mulher disse ao mendigo que não tinha nenhuma moeda para lhe dar.
– Não importa – disse o mendigo. – Só o seu perfume de gardênia já me enche de prazer.


– Obrigada!


Até que um dia a mulher resolveu testar o mendigo.Perfumou-se de enxofre e amoníaco e despejou muitas moedas no seu chapéu. E o mendigo ouviu o tilintar das muitas moedas, aspirou fundo e exclamou:


– Mmmmm. Flor de laranjeira!


DECIDIDO
(Da série “Poesia numa hora dessas?!”)

Encoste o ouvido num tronco
e ouça o sangue do mundo rodando.
Encoste o ouvido no chão
e ouça o mundo ronronando.
O mundo funciona sozinho
e com destino decidido.
Recolha-se ao seu cantinho
e, claro, limpe o ouvido.

Freio na voracidade

Quando as pessoas compram avaliando não só o preço, mas o que as empresas fazem de bom e de mau, a ética pressiona o capitalismo

O capitalismo é ético? Eis uma questão muito difícil de responder. Basicamente, hoje há duas grandes linhas a respeito. Uma enfatiza a dinâmica de um sistema, ou um estilo, que libera a produção das amarras tradicionais e assim revela capacidade inigualável de criar e talvez até distribuir riquezas. Mas o preço dessa libertação é um caráter nada ou pouco ético: o capitalista é movido por um "instinto animal", promove uma "destruição criativa". Na melhor das hipóteses, é neutro eticamente, o que chamamos de "amoral". Com frequência é até predatório, o que chamamos de "imoral". Só por ele, não respeitaria direitos trabalhistas - tanto assim que, nas últimas décadas, vários deles foram reduzidos - nem teria reverência pela natureza e o ambiente.

Isso não representa contudo, necessariamente, uma condenação do capitalismo. Apenas mostra que ele é excelente naquilo que se propõe: produzir. Precisa, porém, de controles externos. Esses podem ser exercidos pelo Estado, pela sociedade, pela opinião pública. Desse ponto de vista, o que pode introduzir ética na economia são as pessoas, enquanto não empresários. Isto é, o próprio empresário, por valores éticos que não são seus como empresário, mas como pessoa, como sujeito moral, pode orientar sua atividade produtiva numa direção melhor. Se não for ele, será a sociedade. Quando cada vez mais pessoas compram levando em conta não só o preço, mas o que as empresas fazem de bom e de mau, é isso o que acontece. Exemplo importante no Brasil foram as campanhas - movidas por pessoas, inclusive empresários da Abrinq - contra o trabalho infantil. A Zara, acusada há dias de comercializar produtos em que se usa trabalho escravo, padece em sua imagem por isso.

Esse é um primeiro modo de ver o capitalismo, digamos, "selvagem". Mas há outra percepção, ou concepção, do capitalismo. Esta aparece quando organizações como a Etco se empenham em defender um ambiente limpo de corrupção para os negócios melhor florescerem. Aqui o problema é, como se vê na série sobre a cultura das transgressões que saiu pela editora Saraiva (de cujo terceiro volume participei), de que maneira evitar a primazia da transgressão, que faz as boas regras - boas segundo a lei e a ética - serem violadas em nome de uma vantagem fácil que, porém, desmoraliza a sociedade, amoraliza a economia e imoraliza a política. Essa linha de pensamento estaria mais perto dos calvinistas de Max Weber, que sentiam a "ética protestante" expressando-se no "espírito do capitalismo". Pessoas empreendedoras, que mourejam, fazem de tudo para a sociedade prosperar: o empresário weberiano do século 16 ou 17 nada tem a ver com o banqueiro da caricatura, fumando charuto, indolente, espertalhão, mancomunado com os poderosos, corruptor. Esse empreendedor dos começos da modernidade pode não ser simpático - nas Américas, seria senhor de escravos, na Holanda, não reconheceria direitos a seus empregados -, mas ele próprio trabalhava, e muito. De certa forma, quando se fala num capitalismo que requer uma ética intensa, é nele que se pensa.

Mas em nossos dias surge um upgrade. Cada vez mais, no lugar da ética protestante e moralista, aparece uma preocupação ética que nasceu da ideia do meio ambiente e agora se desenvolve para a sustentabilidade. Não tem mais por modelo ideal o empresário calvinista que faz, da empresa, sua razão de vida. Ao contrário, cada vez mais a vida é a razão de ser de tudo o que se faça, inclusive (mas não só, nem prioritariamente) a empresa. Tudo começa com o descontentamento ante a poluição. A economia que se desenvolve desde a Revolução Industrial tem um custo altíssimo para a vida - humana, animal, vegetal. Londres passa cem anos coberta pelo fog, uma neblina que se deve à poluição das fábricas. As pessoas não se enxergam. A cidade fica invisível e os cidadãos, cegos ao seu entorno. Contudo, após a 2ª Guerra Mundial, uma preocupação com a natureza cresce pelo mundo. Movimentos verdes lutam contra a má qualidade do ar, da água, em prol da preservação de florestas. A essa altura, por "verde" se entende o meio ambiente natural ou assimilado. Contudo, com os anos, as causas verdes anexam um elenco de outros valores. Não é só a defesa do mundo não contaminado pelo homem. É a defesa do homem, contra o que o desgasta ou desvaloriza.

Também se propõe uma reorientação da ciência. Tomemos o filósofo que é o primeiro grande referencial de toda preocupação com o meio ambiente, Rousseau. É um amante da natureza. Começa seus Devaneios do Caminhante Solitário narrando um passeio pelos arredores de Paris, em que olha as plantas, identifica-as, extasia-se. Mas é também alguém que faz seu début literário com um escrito, premiado pela Academia de Dijon, sustentando que "as artes e as ciências" - isto é, o que chamamos de tecnologia e ciência - fizeram mal, mais do que bem. Desnaturaram o mundo. Degeneraram o homem. Rousseau não vê em nada moderno, seja a economia, a política ou a ciência, capacidade de reverter o processo pelo qual "o homem nasceu bom e a sociedade o corrompe".

Mas o que notamos na ciência das últimas décadas é um forte empenho em reduzir e mesmo suprimir os danos acarretados pelo desenvolvimento. Lembremos que não faz muito tempo a ciência e a tecnologia eram, em ampla medida, influenciadas por encomendas militares. Isso mudou. Tenhamos em mente que muitas pesquisas são conduzidas em nome de causas destrutivas, ainda hoje. Muitos desconfiam que os cultivos transgênicos, ou têm certeza de que os veículos de transporte individuais, causam males em maior número que as vantagens. Os carros são bons a curto prazo para poucos, mas péssimos para o futuro da humanidade como um todo. Mesmo assim, porém, em casos como o da indústria do tabaco, cientistas cortaram seu elo umbilical com ela, como se vê no filme O Informante. E são cientistas de renome que formam o "core" da Comissão Internacional de pesquisa sobre as Mudanças Climáticas, que talvez constitua o órgão mais prestigioso na luta por mudar o mindset que governa uma produção de custos negativos para a sociedade e a natureza.

Com uma ciência e uma tecnologia mais amigas do verde, um verde que saiu das plantas e colore tudo o que é vida e mesmo cultura, isto é, passa a propor uma qualidade de vida melhor para os humanos e seus parceiros no planeta, com a defesa da biodiversidade e do que podemos chamar a culturo-diversidade, por que não uma economia de novo recorte? Será possível o projeto de uma empresa ter no seu cerne a sustentabilidade, isto é, a proposta de que nenhuma intervenção humana piore o que foi recebido? Essa é uma exigência alta. Para eu me alimentar, tenho de matar animais ou mesmo vegetais. (O momento mais engraçado do filme Notting Hill, para mim, foi quando uma moça se disse vegetariana lapsariana. Lapso significa queda. O que ela dizia é que só comia frutas e legumes que já tivessem caído da planta que as gerou. Não comeria uma maçã arrancada da macieira, porque estaria matando um ser vivo. Fica difícil, claro, viver com uma ética tão radical.) Mas, se tenho de matar ou causar danos, posso reduzi-los, talvez revertê-los por completo e, quem sabe, um dia (esse é o sonho!), até melhorar as condições do que foi recebido. Aqui amplio a ideia de que recebemos insumos "da natureza" para a de que recebemos insumos também humanos: o trabalho, a saúde, a boa disposição uns dos outros. É sustentável a ação que não apenas zera o dano causado, mas também promove ganhos. Suponhamos uma empresa que decida fornecer, a seus funcionários, alimentação saudável - a cada três horas, como hoje se recomenda, em vez de poucas e lautas refeições. Pode melhorar a saúde deles. Ela assim terá devolvido mais do que consumiu. É claro que há tantos insumos que o cálculo não pode isolar um dos outros. Mas é um exemplo.

Porque, no fundo, nossa questão é: o que fará uma empresa ou um empresário agir eticamente, ser ético? Tudo o que afirmei não dá uma resposta definitiva. Quando uma empresa faz questão de não explorar o trabalho infantil ou de preservar a natureza, essa iniciativa é "da empresa" ou dos indivíduos que, entre outras coisas, são seus donos? A diferença é importante. Toda empresa busca o lucro. Mas o que a faz criar limites para sua voracidade? É algo que faz parte do próprio projeto empresarial, ou serão elementos externos, inclusive os valores pessoais dos proprietários? Para sair da moral e entrar no moralismo, conta-se que houve um tempo em que um vinho que tem no nome a palavra "diabo" não era distribuído aqui porque os importadores eram cristãos fervorosos. Era um valor deles, não da empresa. E uma empresa pode ter valores? Uma empresa é diferente dos seres humanos que são seus donos, que a fazem? Questões difíceis. O que parece certo, isso sim, é que uma empresa pode ter no seu próprio projeto de negócios uma solidez sustentável e que isso será mais viável se ela tiver compromissos sociais e ambientais e, além disso, estiver na linha de ponta, no cutting edge, da ciência. O mais, resta a esclarecer - ou a fazer.

Ex-BBB Adriana Santana vê o sonho da compra de um automóvel se transformar em pesadelo.

Momento Verdadeiro - A ex-BBB Adriana Santana parece realmente está muito chateada, pois o que seria a realização de um sonho para muitos brasileiros está se transformando numa tremenda dor de cabeça para Adriana.

Pelo Twitter ela rasgou o verbo. E fez uma propaganda bem negativa da concessionária onde adquiriu o carro. Concessionária RIDÍCULA essa Kia Design Barra (RJ)! Atendimento ridículo, funcionários sem experiência nenhuma!! Nunca comprem carro lá!!Disse Santana.

Mas o problema não foi só no atendimento. Adriana disse ainda que comprou um carro branco, mas no documento está especificado que o veículo é preto, o que está lhe causando muitos transtornos. “Comprei um carro BRANCO e eles me passam nota fiscal de um carro PRETO e simplesmente não consigo emplacar o carro!!”  

Adriana lamentou. Tudo indica que se arrependeu de ter comprado o automóvel na concessionária Kia Desing Barra. “Pior coisa que fiz na minha vida foi comprar o carro nessa porcaria de concessionária KIA DESIGN BARRA(RJ)!!!

Muito chateada ela não disse se iria ao PROCON, mas deixou um exemplo, principalmente para quem pretende comprar um carro, pense duas vezes antes de fechar negócio em qualquer concessionária.

Não bastasse isso tudo, a ex-BBB ainda terá que explicar aos policiais sua história, já que teria sido parada numa blitz. “Pra completar a policia acabou me parar! É MOLE? Kkkkk”. Disse Adriana no Twitter.

Pr. Silas Malafaia sai da Band mas pode ir para o SBT.

Momento Verdadeiro - Para quem estava pensando que o pastor Silas Malafaia iria ficar de fora das madrugas, na TV, após ter perdido o horário da Band para o líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, apóstolo Valdemiro Santiago pode ter surpresas.

Parece que o pastor da Assembléia de Deus pode fechar com SBT a qualquer momento. Segundo informações do colunista, Lauro Jardim, da revista Veja essas conversas podem ser retomadas em breve. Cogita-se que o pastor é o preferido da emissora de Silvio Santos para ocupar as madrugadas.

Silvio deve vender o horário por R$10 milhões, mas Silas Malafaia estaria buscando uma negociação melhor. O pastor estaria querendo  um espaço às 20h. Vamos aguardar.

Sai o pr. Silas Malafaia entra o apostolo Valdemiro Santiago nas madrugadas da Band.

PASTOR SILAS MALAFAIA FALA SOBRE A IURD E O BISPO MACEDO

Últimas Notícias: Pastor Silas Malafaia recebe moção de repúdio na Câmara. 

‘Sai Malafaia entra Valdemiro’ à Segundo informações divulgadas pelo jornalista Lauro Jardim, da Coluna Radar on-line da Revista Veja, o apostolo Valdemiro Santiago da Igreja Mundial do Poder de Deus, comprou o horário das 2h às 6h 45 da Band.

Nos últimos dois anos, esse horário pertencia a Associação Vitória em Cristo, que tem como presidente o Pr. Silas Malafaia, na qual são apresentados o programa diário Vitória em Cristo e diversos programas de diversas denominações.

A programação do Malafaia, vai até o dia 30 de setembro, e a partir de outubro quem estará no comando da programação é o Santiago, que desembolsou o dobro de Malafaia.

A mulher corintiana

A mulher corintiana, assim como uma religiosa fiel, é a que menos aceita um forasteiro


Amigo torcedor, amigo secador, aproveito o ensejo, os 101 anos do alvinegro de Parque São Jorge, e aqui me devoto a um tipo especial de fêmea: a mulher corintiana.
O leitor deve pensar diante do enunciado que se trata de um tremendo populismo, picaretagem, oportunismo, canalhice. Não é de todo injusto o rosário de infâmias.
Quando se trata da mulher corintiana, sou uma espécie de Getúlio Vargas do amor, populista no último, por ela reconsolido as leis trabalhistas, elevo salário e estima, nem que provoque um estrago no orçamento caseiro.
O amigo que um dia já caiu, por acaso, no conto desta coluna, sabe da minha condição de bígamo, perdão, trígamo ludopédico: sou Icasa, Sport e Santos. Vivi em Juazeiro, Recife e São Paulo.
Também sabe que nunca deixei de reconhecer a importância do Corinthians. É aquela coisa toda: quando vence, o café vem mais quente e a cerveja mais gelada. Até as fachadas sujas de sombrios casarios do Glicério amanhecem sorrindo.
O que interessa, porém, é a mulher corintiana. Como Aline, a enfermeira do Ipiranga que me administra a cura via sonhos, fetiches, genéricos ou placebos.
Ela não diz "eu te amo"; ela diz simplesmente, como prova de carinho, "você é tão especial, sua alma é corintiana".
A fêmea dessa linhagem não gosta nem mesmo de futebol, devota-se inteiramente ao seu clube. Time do coração para ela é um pleonasmo. "Time não existe, só existe o Timão", diz a enfermeira, na moral da liderança.
Mulher corintiana também chora, mas é ela que ergue o irmão corintiano depois de um baque, depois de uma derrota. Levanta-te, Lázaro alvinegro, ela opera milagres. É o tipo da mulher que vai além do futebol de resultados.
Mais inteligente que o maloqueiro, a cria da costela de São Jorge não pede a cabeça do técnico quando o time é o primeiro da tabela. Tem juízo.
A mulher corintiana, assim como uma religiosa fiel, é a que menos aceita um forasteiro, alguém que não pertença ao bando de loucos, como seu legítimo esposo. Até para namorar, é bronca, exige todo um código de etiqueta.
Quando acontece o enlace com "alguém de outra crença" é "O casamento de Romeu e Julieta", como escreveu Mário Prata, torcedor do Linense.
A corintianíssima não dissimula, olha no olho, diz na lata, nunca é meia boca. Se sai para o jogo, tira mesmo os volantes da contenção do desejo.

Saques, arrastões e "ressentiment"

Na nossa época, futilidades são, no mínimo, tão relevantes e necessárias quanto era o pão em 1789


A turba que afugentou Luís 16 e Maria Antonieta de Versailles, em 1789, pedia pão porque estava com fome.
A turba de Londres em 2011 pedia bugiganga eletrônica e roupa de marca -artigos que, aos olhos de muitos, parecem não ser de primeira necessidade. Ou seja, aparentemente, a violência da turba de 1789 talvez fosse justificada, mas a de 2011 não é.
No domingo passado, na Folha, Eliane Trindade escreveu sobre meninas de rua que praticam arrastões em São Paulo. Elas procuram produtos para alisar o cabelo, celulares cor-de-rosa e lentes de contato verdes para mudar a cor dos olhos.
Alguém estranha que elas não prefiram uma comida boa ou uma roupa quente? Como disse uma menina, o que elas querem é ser bonitas (claro, nos moldes da cultura de massa). Será que, como a turba de Londres, elas seriam culpadas por não desejarem bens "de primeira necessidade"?
Não penso assim -e não é por indulgência com assaltos e arrastões. É porque, na nossa época, as "futilidades" são, no mínimo, tão relevantes e tão necessárias quanto era o pão em 1789. Explico.
Em 1789, as diferenças eram de casta. Salvo filósofos perdidos na turba, as pessoas reunidas no protesto queriam manifestar sua indignação e satisfazer sua fome, mas não pensavam em mudar a ordem social e subir na vida. Na época, aliás, ninguém subia para lugar nenhum, as pessoas ocupavam o lugar que lhes cabia por nascimento.
À força de indignação e raiva, as coisas foram longe, até que ruiu o próprio regime de castas. Desde então, o que confere status não é mais o berço (nobre ou não) no qual a cegonha nos depositou, mas fatores que não dependem só do acaso: trabalho, riqueza, estilo, virtudes morais, cultura etc.
"Quem somos" depende de como conduzimos nossa vida e (indissociavelmente) de como ela é avaliada pelos outros. Para obter o reconhecimento de nossos semelhantes (sem o qual não somos nada), os objetos que nos circundam ajudam mais do que a barriga cheia; eles têm uma função parecida com a dos paramentos das antigas castas: declaram e mostram nosso status -se somos antenados, pop, fashion, sem noção, ricos, pobres ou emergentes, cultos ou iletrados.
Podemos achar cafonas os objetos roubados pelas meninas e pelos saqueadores (o consumo de massa desvaloriza seu consumidor), mas o que importa é que eles roubaram objetos que lhes eram necessários para existir, para ser "alguém" no mundo. Isso não justifica nem saques nem arrastões; mas vale notar que, na nossa época, as futilidades são, no mínimo, tão relevantes e necessárias quanto era o pão para o pessoal de 1789.
Outro aspecto. Houve quem detestou os saqueadores londrinos por eles não estarem interessados em alterar a ordem social: roubaram para ter as mesmas coisas que a gente e, portanto, chegar exatamente ao lugar que nós ocupamos agora. Para usar uma expressão clássica em filosofia, os saqueadores seriam um caso de "ressentiment".
Nietzsche tomou o termo (e parte de seu sentido) de Kierkegaard. Modernizando, a ideia é a seguinte: "Não tive sorte ou, então, sou burro e preguiçoso, acho chato estudar e gosto de dormir. Sou invisível socialmente e invejo o bem-sucedido, que se pavoneia com seus objetos. Não quero me sentir culpado de minha condição; prefiro, portanto, acusar dela o bem-sucedido. Com isso, viverei minha mediocridade como se fosse o resultado da violência dos privilegiados, que gozam de tudo e não deixam nada para mim".
Enfim, para se consolar, o ressentido inventa uma moral (social ou religiosa) pela qual, no futuro, seu perseguidor será destronado pela revolta ou queimará nas chamas do Inferno.
Nos bares da "facu" de filosofia, nos anos 1970, colegas de direita acusavam a revolução proletária de ser apenas um projeto ressentido. Respondíamos que a revolução não era ressentida, porque ela não queria vingança, não queria substituir a burguesia, apropriando-se de seus brinquedos: seu intuito era inaugurar um mundo diferente, onde todos gozaríamos de novos prazeres.
Desse ponto de vista, os saqueadores de Londres, eles sim, seriam simplesmente uns ressentidos, não é?
Pode ser, mas, antes de responder, recomendo paciência: o que hoje parece apenas "ressentiment" pode ser a faísca de mudanças que nem suspeitamos. Afinal, o pessoal de 1789 só pedia pão, e olhe o que aconteceu...

Direitos humanos e ação diplomática

Devemos evitar posturas que venham a contribuir para o estabelecimento de um elo automático entre a coerção e a promoção da democracia


Comprometido no plano nacional com os direitos humanos, com a democracia, com o progresso econômico e social, o Brasil incorpora plenamente esses valores a sua ação externa.
Diante dos eventos da Primavera Árabe, expressamos nossa solidariedade à mobilização social por maior liberdade de expressão e avanços políticos e institucionais em países submetidos a regimes autoritários. Tanto no Conselho de Segurança quanto no Conselho de Direitos Humanos da ONU, condenamos as violações cometidas pelos regimes líbio e sírio.
Ao velar para que o compromisso com os valores que nos definem como sociedade se traduza em atuação diplomática, o Brasil trabalha sempre pelo fortalecimento do multilateralismo e, em particular, das Nações Unidas.
A ONU constitui o foro privilegiado para a tomada de decisões de alcance global, sobretudo aquelas relativas à paz e à segurança internacionais e a ações coercitivas, que englobam sanções e uso da força.
Ações militares sem a legitimação do Conselho de Segurança da ONU, além de trazerem descrédito para os instrumentos internacionais subscritos pela comunidade internacional como um todo, tendem a se transformar em fator de instabilidade, violência e violações de direitos humanos em grande escala, como demonstrou a intervenção militar no Iraque.
Não nos esqueçamos de que o primeiro direito humano é o direito à vida. A primeira obrigação da comunidade internacional ao deparar com uma situação de crise é a de evitar o agravamento de tensões.
Cada vez que a violência se dissemina, as primeiras vítimas são os segmentos mais vulneráveis: as crianças, as mulheres, os idosos, os desvalidos.
Além de defendermos a legalidade das nossas ações coercitivas perante a Carta da ONU e o direito internacional, devemos sempre aplicar medidas adequadas, com os olhos voltados para os resultados almejados: a promoção da democracia, dos direitos humanos, a proteção da população civil, a criação de condições de estabilidade que geram oportunidade de progresso econômico e social.
A ordem internacional não se fortalece com interpretações livres de mandatos do Conselho de Segurança. E, sempre que a ordem se enfraquece, quem mais padece são os mais fracos. Como bem assinalou o professor Richard Falk, da Universidade Princeton, em entrevista à Folha, houve, no caso da Líbia, uma lacuna entre o que foi autorizado pelo Conselho de Segurança e a ação da Otan.
A relação entre a promoção da paz e segurança internacionais e a proteção de direitos individuais evoluiu de forma significativa ao longo das últimas décadas, a partir da constituição das Nações Unidas, em 1945. Não se pode afirmar que essa evolução, positiva em seu conjunto, seja obra de um grupo de países em particular.
Ela é fruto de um embate de ideias em que os militarmente mais poderosos não estiveram necessariamente na vanguarda dos clamores por justiça e equidade. Lembro que os primeiros esboços da Carta da ONU incluíam referências escassas aos direitos humanos por razões que hoje podem parecer surpreendentes.
Robert C. Hildebrand, que relata as negociações do documento em sua obra "Dumbarton Oaks", credita essa circunstância ao fato de que os Estados Unidos temiam questionamentos à segregação racial ainda vigente no país e à preocupação do Reino Unido de que sua soberania sobre um vasto império colonial viesse a ser posta em xeque -como efetivamente ocorreu.
A luta contra o apartheid proporciona um exemplo eloquente de ação conjunta do mundo em desenvolvimento contra práticas que atentam contra a dignidade humana. Quando o tema foi levado ao Conselho de Segurança da ONU, as objeções à aplicação de sanções contra o regime minoritário sul-africano partiram de membros permanentes ocidentais.
Desde a adoção da Carta da ONU, a relação entre promover direitos humanos e assegurar a paz internacional passou por várias etapas. Sofreu paralisia em função da rivalidade ideológica da Guerra Fria; beneficiou-se do breve momento de consenso internacional do imediato pós-Guerra Fria e da ação internacional pela reversão da invasão iraquiana do Kuait.
Em meados da década de 90 surgiram vozes que, motivadas pelo justo objetivo de impedir que a inação da comunidade internacional permitisse episódios sangrentos como os da Bósnia ou do genocídio em Ruanda, forjaram o conceito de "responsabilidade de proteger".
Embora a responsabilidade coletiva não precise se expressar por meio de ações coercitivas para ser eficaz, surgiram vozes particularmente intervencionistas e militaristas no chamado "Ocidente" que continuam gerando controvérsia e polêmica.
A Carta da ONU, como se sabe, prevê a possibilidade do recurso à ação coercitiva, com base em procedimentos que incluem o poder de veto dos atuais cinco membros permanentes no Conselho de Segurança -órgão dotado de competência primordial e intransferível pela manutenção da paz e da segurança internacionais.
O acolhimento da responsabilidade de proteger na normativa das Nações Unidas teria de passar, dessa maneira, pela caracterização de que, em determinada situação específica, violações de direitos humanos implicam ameaça à paz e à segurança.
Para o Brasil, o fundamental é que, ao exercer a responsabilidade de proteger pela via militar, a comunidade internacional, além de contar com o correspondente mandato multilateral, observe outro preceito: o da responsabilidade ao proteger. O uso da força só pode ser contemplado como último recurso.
Queimar etapas e precipitar o recurso à coerção atenta contra a "rationale" do direito internacional e da Carta da ONU. Se nossos objetivos maiores incluem a decidida defesa dos direitos humanos em sua universalidade e indivisibilidade, como consagrado na Conferência de Viena de 1993, a atuação brasileira deve ser definida caso a caso, em análise rigorosa das circunstâncias e dos meios mais efetivos para tratar cada situação específica.
Não há espaço, no estabelecimento de políticas consistentes na área dos direitos humanos, para generalizações ingênuas nem para facilidades retóricas.
Devemos evitar, muito especialmente, posturas que venham a contribuir -ainda que indireta e inadvertidamente- para o estabelecimento de elo automático entre a coerção e a promoção da democracia e dos direitos humanos. Não podemos correr o risco de regredir a um estado em que a força militar se transforme no árbitro da justiça e da promoção da paz.

ANTONIO DE AGUIAR PATRIOTA é ministro das Relações Exteriores.

A sala de aula, desconectada

Não podemos ignorar, no processo de aprendizado escolar, as tecnologias de informação e comunicação


TRINTA ANOS depois do primeiro PC, só 7% dos coordenadores pedagógicos das escolas brasileiras acreditam que seus professores sabem preparar uma apresentação em PowerPoint. Há 15 anos na era das redes, só 20% dos professores dizem estar na web, a partir da escola, quase todos os dias.
Tal estado de coisas só não é mais preocupante porque 69% dos professores com menos de 30 anos revelam estar na rede a partir de casa, todo dia ou quase, realizando atividades associadas ao seu papel na escola.
Os dados são da pesquisa sobre as TICs (tecnologias da informação e comunicação) nas escolas, empresas e domicílios, publicada pelo CGI.br (Comitê Gestor da Internet brasileira) -ver o link bit.ly/ra829Z.
Você poderia dizer que o papel dos professores, na escola, é "dar aulas". Mas não, não é. O principal papel dos professores, em todos os níveis, é conduzir processos de criação de oportunidades de aprendizado. E isso pode ser feito de muitas formas, entre as quais a aula.
Mas a aula à qual estamos acostumados -normalmente a explanação de um texto conhecido, quando não a repetição pura e simples, na escola, do material que os alunos poderiam ter lido em casa para discutir em sala- já deveria ter sido proibida há décadas.
Talvez "proibida" seja muito forte neste contexto. Mas você já imaginou a quantidade de tempo e de gente que se perde, mundo afora, ouvindo o professor recitar, e muitas vezes mal, um texto que poderia ser lido antes da aula, especialmente pelos maiores, para um debate em sala?
Será que o processo de aprendizado mudaria significativamente se todos os professores soubessem preparar e realizar uma apresentação em PowerPoint, talvez resultado de terem mais acesso à internet na escola? Não necessariamente, até porque o domínio da tecnologia para expressar o conteúdo não significa domínio do conteúdo.
E estamos cansados de saber que um dos maiores problemas dos professores dos primeiros níveis de ensino é sua formação, em cursos de pedagogia que, se têm pouco a ver com as necessidades reais das escolas, estão quase sempre abaixo da crítica no que tange à qualidade de seu próprio processo educacional.
Ainda por cima, de que adiantaria preparar uma apresentação computacional, gráfica e interativa, se apenas 4% das salas de aula têm um PC para apresentá-la?
Ocorre que as tecnologias de informação e comunicação não podem mais ser ignoradas no processo de aprendizado, até porque são parte da linguagem dos aprendizes.
Internet, redes sociais, jogos digitais, smartphones não são uma raridade exótica na realidade dos alunos. Mais de 85% das residências têm celular, 35% têm computador, 31% estão ligadas à internet.
A sala de aula, coitada, está desconectada. Entre os 44% dos brasileiros que usam computadores com alguma frequência, 50% sabem usar uma planilha e manipular som e imagem e, surpreendentemente, 18% têm alguma competência em programação. Aí é que a escola, os professores e a sala de aula ficaram, em termos de competências em TICs, muito atrás da média da população.
O que quer dizer, também e auspiciosamente, que as oportunidades de aprendizado pularam o muro da escola e foram para a rua, onde estão situadas, do ponto de vista das TICs, mais competências do que no sistema educacional.
Isso é bom, porque indica que pessoas e empresas não estão dependendo só da escola e de sua dinâmica para aprender, o que realmente deveria ser o caso em uma sociedade "em rede", de informação e conhecimento.
Mas quer dizer também que a escola é quase irrelevante para o aprendizado de um vasto conjunto de fundamentos e de técnicas que são essenciais no trabalho e na vida de qualquer um, hoje e no futuro, qualquer futuro.
O estudo do CGI.br aponta problemas antigos, crônicos e diagnosticados há anos, que já poderiam ter sido tratados de múltiplas formas, se o sistema educacional tivesse a prioridade que deveria ter em um país que, se no passado era "do futuro", quer, no presente, estar "no futuro".

Antipolítica

Se os políticos parecem ser todos corruptos é porque nós, na sociedade civil, devemos ser todos honestos


Certa vez, uma mulher me disse que não deixaria de gostar de mim, mesmo se eu perdesse o cabelo, engordasse absurdamente e mudasse de fé ou de lugar de residência. Mas ela deixou claro que, caso eu me tornasse um político, ela se separaria de mim, no ato. Essa mulher é brasileira, mas poderia ter sido italiana. Brasileiros e italianos compartilham, hoje, uma paixão antipolítica. A ideia antipolítica mais difusa é a convicção (recente na Itália e endêmica no Brasil) de que o exercício da política é indissociável da corrupção -com seu cortejo de alianças oportunistas, mentiras etc. Fora a ojeriza moral, a consequência dessa convicção é a seguinte: de repente, o único projeto republicano válido parece ser a luta contra os corruptos. Ou seja, no governo, os apetrechos da política (planos, visões ou competências) são inúteis, apenas precisamos de pessoas honestas.
A antipolítica da corrupção cria uma nova unanimidade. Para o cidadão comum, ela é lisonjeira: se os políticos parecem ser todos corruptos é porque nós, na sociedade civil, devemos ser todos honestos, não é? Para os políticos, denunciar a corrupção de sua própria classe é mais fácil do que conceber e colocar em ato ideias sociais e econômicas inovadoras. Com isso, a antipolítica reconcilia a nação, as classes e os partidos: vivemos enfim numa comunidade de (todos) indignados contra os políticos (todos) corruptos.
Na Itália, o Partido Comunista da época de Berlinguer (inclusive nas regiões que governava) era considerado, mesmo por seus adversários, como uma reserva ética. Os comunistas podiam ser acusados de comer criancinhas, mas ninguém imaginava que, uma vez no poder, eles seriam como os outros. Ora, a partir de 1991, quando o partido se desfez, as siglas nas quais ele confluiu (compostas cada vez mais de políticos profissionais e cada vez menos de militantes) foram partidos como os outros.
O caso do PT, no Brasil, não foi muito diferente. As alianças de governo e sobretudo o mensalão acabaram com a ideia de que o Partido dos Trabalhadores representasse uma reserva ética dentro da política. Conclusão: como quer a antipolítica, políticos são todos iguais e reserva ética só existe na sociedade civil.
Quanto a mim, oscilo: acho que a arte de governar não deveria se resumir num trabalho de polícia, mas será que, hoje, é possível qualquer política sem um saneamento moral prévio?
A corrupção generalizada não é o único argumento da antipolítica. A desconfiança de discursos políticos fanfarrões e abstratos (que, ao longo do século 20, sacrificaram milhões) pede que eles sejam substituídos pelo cuidado com os problemas concretos, numa espécie de ativismo direto, sem projetos globais, sem representação e sem delegação. Aqui também a antipolítica ganha uma simpatia suprapartidária e interclassista.
Acabo de ler um conto de Piero Colaprico, "Arrivano i NAM", publicado pelo "Corriere della Sera", no qual ex-militantes da luta armada dos anos 1970 e 1980, tanto esquerdistas como fascistas de extrema direita, unem-se, hoje, para criar um grupo que organiza linchamentos e punições como no passado, só que contra alvos comuns, que não são mais inimigos ideológicos, mas pessoas que concretamente estragam a convivência civilizada de todos na cidade.
Os NAR, Nuclei Armati Rivoluzionari, são assim substituídos pelos NAM, Nonni Armati per Milano, ou seja, os avós armados para Milão, vigilantes defensores da ordem e da justiça miúdas e concretas.
Concordando com a antipolítica, entre os NAR e os NAM, talvez eu prefira os avós, os NAM. Se hesito um pouco, é porque receio que, à força de cuidar apenas do concreto imediato, a gente acabe perdendo a capacidade de pensar mundos realmente diferentes.
Em suma, não sei interpretar a antipolítica. Talvez ela seja o sinal de uma nova forma de domínio, que nos induz a aceitar nosso "sistema" e pedir apenas gestões mais honestas e mais concretas. Talvez, ao contrário, ela seja uma revolta contra a política tradicional, capaz, a longo prazo, de redefinir nossa visão do que é política.
Questões. A Primavera Árabe me parece ser um evento político no sentido tradicional. Mas os jovens protestatórios do Chile e ainda mais os saqueadores de Londres foram o quê? Antipolíticos?

O MELHOR DA CULTURA EM 10 INDICAÇÕES

BARTOLOMEU LOURENÇO DE GUSMÃO
"O padre inventor" é o tema do primeiro volume da Brasiliana da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. Nascido em Santos, o sacerdote apresentou a criação de um aeróstato, semelhante a um balão a gás, em 1709. Destaque para os anexos da obra: quatro encartes com fac-símiles e transcrições de documentos importantes -como a petição do padre à Corte para ter exclusividade na fabricação de instrumentos para voar.
Andrea Jakobsson Estúdio/UERJ 96 págs. | R$ 120
 
VELHA PONTE DE PEDRA E OUTRAS PINTURAS
Destaque da última Bienal de São Paulo, Rodrigo Andrade expõe oito telas inéditas que reproduzem fotografias, em técnica semelhante à usada em capas da Ilustríssima. Três delas foram captadas pelo artista na Escócia; as demais registram cenas suburbanas do Brasil.
Galeria Millan | até 1º/10 | grátis
 
CAMERATA ABERTA
Regido pelo maestro francês Guillaume Bourgogne, o grupo formado por professores da Escola de Música Tom Jobim e instrumentistas da Osesp apresenta composições que farão parte do seu primeiro disco. No repertório, obras contemporâneas como "Spiri", de Franco Donatoni, de 1977.
Sesc Santana | terça, às 21h | R$ 3 a R$ 12
 
ARTEFATOS INDÍGENAS
A Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo investiu R$ 72 mil na aquisição de 270 peças encomendadas para integrar o acervo do Pavilhão das Culturas Brasileiras, inaugurado ano passado no antigo prédio da Podam no Parque do Ibirapuera. Os artefatos -máscaras, cerâmicas, cestos, instrumentos musicais, bancos- foram produzidos por 12 tribos do Amapá, Pará e Mato Grosso, como Wajãpi, Palikur e Karipuna.
Pavilhão das Culturas Brasileiras 10/9 a 8/1/2012 | grátis
 
SOLAR DA FOSSA
Depois de mais de cem entrevistas, o jornalista Toninho Vaz faz uma biografia do famoso casarão de 85 apartamentos em Botafogo, no Rio, que abrigou inúmeros jovens entre 1964 e 1971. Mais tarde, muitos dos rapazes e moças que moraram lá -Caetano Veloso, Naná Vasconcelos, Paulo Leminski e Darlene Glória foram alguns deles-transformaram a cultura do país através da música, do teatro, da literatura e da imprensa. Prefácio de Ruy Castro, que morou e frequentou o lugar entre 1966 e 1970.
Casa da Palavra | 254 págs. | R$ 39,90
 
ORGIA
Tulio Carella (1912-1979), dramaturgo e escritor argentino, mudou-se para Recife em 1960 quando foi convidado a dar aulas de teatro na capital de Pernambuco, onde ficou até 1962. Carella se interessou pela sensualidade dos recifenses e teve inúmeros casos amorosos (a maioria homossexuais) que foram relatados em diários e transformados em livro editado por Alvaro Machado. A obra foi publicada no Brasil em 1968, mas passou décadas fora de catálogo.
Opera Prima | trad. Hermilo Borba Filho | 312 págs. | R$ 64
 
LOUIS LANGRÉE
Depois de bastante elogiado pelo jornal "The New York Times" após se apresentar com a orquestra do Mostly Mozart Festival em Nova York em agosto, o maestro rege a Osesp em três apresentações com o pianista Nelson Freire. O repertório é composto por peças de Schoenberg, Brahms e Schumann.
Sala São Paulo | 8 e 9/9, às 21h, e 10/9, às 16h30 | R$ 24 a R$ 135
 
DANTE
Tradutora e biógrafa, a inglesa Barbara Reynolds assina uma das mais completas obras sobre o autor de "A Divina Comédia", segundo o jornal britânico "The Telegraph". Além abordar o trabalho do escritor, o livro levanta questões sobre a vida pessoal e o pensamento político do poeta florentino.
Record | trad. Fátima Marques 670 págs. | R$ 79,90
 
SUÍTES IMPERIAIS
A continuação de "Abaixo de Zero", de Bret Easton Ellis, publicado em 1985, leva Clay, Julian e Blair, personagens do primeiro romance do escritor, a viver novamente casos carregados de violência e sensualidade. Agora, no entanto, o enredo tem novos componentes: os três têm o dobro da idade e são profissionais bem-sucedidos da indústria hollywoodiana.

BARTOLOMEU LOURENÇO DE GUSMÃO
"O padre inventor" é o tema do primeiro volume da Brasiliana da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. Nascido em Santos, o sacerdote apresentou a criação de um aeróstato, semelhante a um balão a gás, em 1709. Destaque para os anexos da obra: quatro encartes com fac-símiles e transcrições de documentos importantes -como a petição do padre à Corte para ter exclusividade na fabricação de instrumentos para voar.
Andrea Jakobsson Estúdio/UERJ 96 págs. | R$ 120
 
VELHA PONTE DE PEDRA E OUTRAS PINTURAS
Destaque da última Bienal de São Paulo, Rodrigo Andrade expõe oito telas inéditas que reproduzem fotografias, em técnica semelhante à usada em capas da Ilustríssima. Três delas foram captadas pelo artista na Escócia; as demais registram cenas suburbanas do Brasil.
Galeria Millan | até 1º/10 | grátis
 
CAMERATA ABERTA
Regido pelo maestro francês Guillaume Bourgogne, o grupo formado por professores da Escola de Música Tom Jobim e instrumentistas da Osesp apresenta composições que farão parte do seu primeiro disco. No repertório, obras contemporâneas como "Spiri", de Franco Donatoni, de 1977.
Sesc Santana | terça, às 21h | R$ 3 a R$ 12
 
ARTEFATOS INDÍGENAS
A Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo investiu R$ 72 mil na aquisição de 270 peças encomendadas para integrar o acervo do Pavilhão das Culturas Brasileiras, inaugurado ano passado no antigo prédio da Podam no Parque do Ibirapuera. Os artefatos -máscaras, cerâmicas, cestos, instrumentos musicais, bancos- foram produzidos por 12 tribos do Amapá, Pará e Mato Grosso, como Wajãpi, Palikur e Karipuna.
Pavilhão das Culturas Brasileiras 10/9 a 8/1/2012 | grátis
 
SOLAR DA FOSSA
Depois de mais de cem entrevistas, o jornalista Toninho Vaz faz uma biografia do famoso casarão de 85 apartamentos em Botafogo, no Rio, que abrigou inúmeros jovens entre 1964 e 1971. Mais tarde, muitos dos rapazes e moças que moraram lá -Caetano Veloso, Naná Vasconcelos, Paulo Leminski e Darlene Glória foram alguns deles-transformaram a cultura do país através da música, do teatro, da literatura e da imprensa. Prefácio de Ruy Castro, que morou e frequentou o lugar entre 1966 e 1970.
Casa da Palavra | 254 págs. | R$ 39,90
 
ORGIA
Tulio Carella (1912-1979), dramaturgo e escritor argentino, mudou-se para Recife em 1960 quando foi convidado a dar aulas de teatro na capital de Pernambuco, onde ficou até 1962. Carella se interessou pela sensualidade dos recifenses e teve inúmeros casos amorosos (a maioria homossexuais) que foram relatados em diários e transformados em livro editado por Alvaro Machado. A obra foi publicada no Brasil em 1968, mas passou décadas fora de catálogo.
Opera Prima | trad. Hermilo Borba Filho | 312 págs. | R$ 64
 
LOUIS LANGRÉE
Depois de bastante elogiado pelo jornal "The New York Times" após se apresentar com a orquestra do Mostly Mozart Festival em Nova York em agosto, o maestro rege a Osesp em três apresentações com o pianista Nelson Freire. O repertório é composto por peças de Schoenberg, Brahms e Schumann.
Sala São Paulo | 8 e 9/9, às 21h, e 10/9, às 16h30 | R$ 24 a R$ 135
 
DANTE
Tradutora e biógrafa, a inglesa Barbara Reynolds assina uma das mais completas obras sobre o autor de "A Divina Comédia", segundo o jornal britânico "The Telegraph". Além abordar o trabalho do escritor, o livro levanta questões sobre a vida pessoal e o pensamento político do poeta florentino.
Record | trad. Fátima Marques 670 págs. | R$ 79,90
 
SUÍTES IMPERIAIS
A continuação de "Abaixo de Zero", de Bret Easton Ellis, publicado em 1985, leva Clay, Julian e Blair, personagens do primeiro romance do escritor, a viver novamente casos carregados de violência e sensualidade. Agora, no entanto, o enredo tem novos componentes: os três têm o dobro da idade e são profissionais bem-sucedidos da indústria hollywoodiana.

A revolta das panelas - LUCAS FERRAZ

REPORTAGEM

A revolta das panelas

A Argentina nos dez anos da crise de 2001
RESUMO Dez anos depois da desvalorização do peso, que deu origem à mais grave crise de sua história, a Argentina se recupera e vê sua situação social melhorar, apesar do panorama político de incertezas, da pesada intervenção governamental na economia e do desinteresse pela política às vésperas da eleição.

LUCAS FERRAZ - ILUSTRAÇÃO LINIERS

EM MEIO AO CAOS econômico, social e político da Argentina de dezembro de 2001, o administrador desempregado Oreste García, 43, uma das vítimas da maior crise do país, encontrou motivo para comemorar. O Racing, seu time, arrancou um empate contra o Vélez Sarsfield, que jogava em casa, no bairro portenho de Liniers, e sagrou-se campeão argentino, quebrando 35 anos de jejum.

A situação do país deu contornos dramáticos à vitória. Naquela quinta, 27 de dezembro, por pouco não houve futebol. A Argentina estava em Estado de sítio, decretado semanas antes. Os protestos nas ruas da capital eram diários, assim como os saques nos supermercados. A economia derretia, com fuga maciça de capitais e o anúncio do "corralito", medida para salvar os bancos que congelou os depósitos. Só era permitido retirar pequenas somas.

No dia 20, um acossado Fernando De la Rúa havia renunciado à Presidência da República. Para conseguir a realização da partida, os torcedores do Racing fizeram um piquete nas ruas da capital até a sede da AFA (Associação de Futebol Argentino). Conseguiram. Time de Carlos Gardel, Juan Domingo Perón e Néstor Kirchner, o Racing -ou "Academía", alcunha preferida da torcida- foi fundado em Avellaneda, em 1903, e tem uma história de glórias e fracassos que em muito se parece com a da Argentina, a começar pela camisa, igual à da seleção.

O clube foi uma potência até os anos 1940 -quando o país ostentava índices socioeconômicos comparáveis à Europa Ocidental. A equipe obteve nove títulos nacionais e foi o primeiro clube argentino a ganhar o Mundial Interclubes, em 1967. Nos anos 70, vieram cartolas irresponsáveis e dívidas. Em 1983, foi o primeiro dos cinco grandes clubes argentinos a despencar para a segunda divisão.

Em 1999, a diretoria do Racing pediu falência, mas torcedores se juntaram e a evitaram. Em outro feito inédito, o time foi o primeiro do país a ter gestão empresarial. A ressurreição, a volta à glória, ocorreu naquela noite de 27 de dezembro de 2001, enquanto a Argentina fazia o caminho inverso.

RECESSÃO Os sinais de que a economia ia mal apareceram em 1998, quando o país entrou em recessão após sete anos da conversibilidade, sistema que deu ao peso o mesmo valor do dólar. O mecanismo foi instituído no governo de Carlos Menem (1989-99) para sanar a histórica inflação. A dolarização da economia possibilitou um salto espetacular na vida da maioria dos argentinos, que trocou destinos como Florianópolis e Punta del Este por Miami. Silicone e cirurgias plásticas viraram moda. A classe média ganhou acesso a um padrão de vida que não se via desde o governo de Perón, nos anos 40, quando a classe trabalhadora foi ao paraíso -ou ao centro de Buenos Aires- montada em estilosas motonetas.

Em 1999, quando De la Rúa foi eleito, o país, de tradição agrária, importava milho da França e carne de hambúrguer dos EUA. Cevada pelos artifícios dos dez anos conversibilidade, a situação se agravava e causava outras anomalias. Uma das mais imediatas, e que não parava de crescer, era o deficit fiscal. O desemprego já assolava a 20% da população. A fuga de capitais aumentava diante da crescente desconfiança internacional.

A pobreza bateu recordes. Para sobreviver politicamente, o governo evitou mexer na dolarização, mas se endividava cada vez mais. Só com o FMI (Fundo Monetário Internacional), em 1999, a dívida chegava a US$ 128 bilhões. Presa a legislações de oito países, em oito moedas, a dívida tornou-se um fardo incalculável. Num mercado informal fora de controle, surgiram 18 moedas paralelas ao peso, circulando em todas as províncias.

RENÚNCIA O país colapsou com a renúncia de De la Rúa, que ficou 741 dias no poder. Distúrbios deixaram mais de 30 mortos, mais da metade da população desceu à pobreza, cinco presidentes ocuparam a Casa Rosada em dez dias e foi decretado o maior calote da história, cerca de US$ 100 bilhões, que pôs no chinelo o "default" da Rússia de 1998, de US$ 32 bilhões, que até então era o maior.
Assim que assumiu a presidência, em janeiro de 2002, Eduardo Duhalde anunciou a desvalorização do peso. O golpe acertou em cheio a classe média. Com a "pesificação", a poupança da população se reduziu pela metade, enquanto as dívidas duplicaram. O "que se vayan todos", palavra de ordem gritada ao som dos panelaços, mexeu com o país.

"Há um paralelismo muito grande entre a história do Racing e a da Argentina. As glórias e os fracassos dos dois se entrelaçam", diz Santiago Hadida, 37, autor, com o diretor Fernando Spiner, do roteiro de "35 Años no es Nada", filme em produção que narra a história do personagem fictício Oreste García. Torcedor do Racing como o protagonista, durante a crise Hadida atuava como jornalista em uma editora. Sem receber, foi forçado a se demitir. "O filme será uma bela forma de lembrar aqueles anos."

Em filmes, livros, séries, programas de TV e debates, a Argentina lembra os dez anos de sua pior crise econômica. Visto à distância, aquele momento parece o apogeu de uma condição permanente, que se confunde com a própria identidade do país. Entre as sequelas, ficou a descrença no sistema bancário: a prática de guardar dólares em casa segue em alta. Mesmo assim, a hecatombe de dez anos atrás passa por 2011 com timidez, sem esquentar o debate eleitoral.

MARCIANOS No primeiro semestre deste ano, teve destaque a série de desenho animado "Marcianos", exibida no canal público "Encuentro". Foi a estreia na televisão do gibi lançado em 2006 pelo Museu da Dívida Externa. O programa chegou a ser apresentado na Casa Rosada pela presidente Cristina Kirchner, que inteirou-se da história zapeando a TV. "Marcianos" é a história de três extraterrestres que pousam em Buenos Aires em 3668, 1.400 anos depois de uma tragédia nuclear devastar a Terra. Perplexos, os ETs encontram indícios de que o holocausto nuclear não foi a causa da extinção dos seres humanos, como pensavam. "Dados recuperados mostram que, há muito tempo, agrupações humanas mostravam uma forte vocação de autoextermínio", diz um. "Essa vocação foi desencadeada, em boa medida, por nações do hemisfério Norte, responsáveis pelo holocausto final."

O panfleto anti-imperialista prossegue com um economista narrando aos alienígenas os descaminhos econômicos da Argentina e a culpa a cartilha internacional -EUA, bancos e organismos como o FMI- pela formulação de políticas que geraram a elevada dívida externa e a crise de 2001. A história revisita as origens da dívida, do primeiro empréstimo, tomado em 1824 ao banco inglês Baring Brothers, passando pelos anos Perón (1946-55 e 73-74) e pela última ditadura militar (1976-83).

MUSEU Universidade de Buenos Aires, só foi inaugurado em 2005. "Marcianos", diz o diretor Federico Saravia, se encaixa no objetivo do museu: discutir de "maneira didática e acessível à população toda a problemática da dívida externa". A instituição também realiza atividades itinerantes em escolas e no interior do país.

O espaço é bem modesto, ocupando uma sala na nova sede da faculdade, na avenida Córdoba. A antiga sede, no subsolo do prédio ao lado, foi interditado com o desabamento do teto, há dois anos. As visitas não são muitas: cerca de 3 mil pessoas por ano.

Para lembrar uma década da crise, o museu apresentou uma versão de "Marcianos" para o cinema. A estreia, em julho, foi no tradicional Gaumont, cinema na avenida Rivadavia, na praça do Congresso. Os não mais de 15 gatos pingados tiveram que deixar o local no meio da exibição, por causa de uma pane no projetor.
ASSOMBRAÇÃO Para muitos argentinos, a crise é uma assombração cíclica que pode ressurgir a qualquer momento. Antes de 2001, o país viveu a crise da hiperinflação em 1989 (3.079% ao ano, medida em preços ao consumidor), que precipitou a saída de outro presidente, Raúl Alfonsín (1983-89). Nove anos antes, durante a ditadura, a política econômica (tão perversa quanto a barbaridade do regime, que fez 30 mil desaparecidos) levou ao derretimento do sistema financeiro. Bancos e outras instituições financeiras quebraram. Em 1975, no tumultuado governo de Isabelita Perón, nova crise de inflação. Regressando até a Revolução Libertadora, que em 1955 depôs Perón, a Argentina viveria diversos golpes, convulsões sociais, políticas ou econômicas. Em todas elas, houve violência.

BARCELONA "As pessoas não querem falar de crise, há um medo de que tudo possa voltar. Por isso o governo não fala, a oposição não fala, a imprensa não fala e até a gente se esqueceu de falar", afirma Pablo Marchetti, 43, editor-responsável da "Barcelona", revista satírica que é uma das filhas de 2001. Idealizada naquele ano por Marchetti e um grupo de amigos jornalistas, a "Barcelona" -cujo slogan é "uma solução europeia para os problemas argentinos". Faz, nas palavras do editor "jornalismo escrachado em estado bruto". "É uma espécie de 'que se vayan todos' da imprensa argentina". Semanal desde julho, após anos com periodicidade quinzenal, a revista reconta em versão nonsense, em textos, artes, montagens e charges, o noticiário da Argentina e do mundo para um público que, para entender, precisa ler os jornais.
"A ideia era lançar a revista logo em janeiro de 2002, para que no meio do fim do mundo argentino surgisse algo novo. Mas faltava papel, o custo para fazer era enorme", conta Marchetti, feliz com seus 30 mil exemplares semanais.

"Sempre acreditamos ser os mais europeus dos latino-americanos, e ainda hoje é assim", diz o editor. "A crise foi a maior piada da Argentina, a renúncia, os cinco presidentes em uma semana, o corralito, a quebradeira nas ruas, Eduardo Duhalde presidente e até o Racing campeão! Veja bem, o país precisou derreter, se acabar, para o Duhalde virar presidente e o Racing, 35 anos depois, voltar a conquistar um título."

EFEMÉRIDES "Na Argentina não é possível falar em dez anos", diz o economista Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia, em seu escritório na avenida Carlos Pellegrini, no centro portenho. Responsável por medidas que ajudaram a tirar o país da crise, ele não gosta de efemérides ("nos 20 anos falaremos o quê?"), mas aproveita a data para lançar "El Desafío de la Voluntad - Trece Meses Cruciales en la Historia Argentina", livro que narra seu período à frente da economia do país.

Lavagna assumiu em abril de 2002, quatro meses depois de Duhalde, o presidente da transição, ser indicado para o cargo (que deixaria em maio de 2003). Mas Lavagna ficaria no ministério até o final de 2005, quando rompeu com Néstor Kirchner (1950-2010). Em 2007, o ex-ministro tentou se eleger presidente, mas acabou em terceiro no pleito que alçou Cristina Kirchner, mulher de Néstor, à Casa Rosada.

Em tom épico e egocêntrico, Lavagna narra a recuperação econômica em 13 capítulos. Lista reuniões, debates, o rechaço ao FMI e as medidas adotadas. E, sobretudo, as pressões quando o calote concretizou-se como única opção. Afastado da vida pública, o economista de 69 anos divide o tempo entre Buenos Aires e a Europa, para onde viaja para falar do caso argentino e da relação com a atual crise do euro, sobretudo a Grécia.
"É possível ver muito da crise na atual Argentina", afirma o jornalista Martín Kanenguiser, outro que acaba de lançar um livro sobre 2001. "Inflação alta, consumo alto, deficit com alguns fundos e principalmente um modelo que afugenta o capital estrangeiro." Diferentemente do relato personalista de Lavagna, Kanenguiser destrincha o período com didatismo.

"El Fin de la Ilusión - Crisis, Reconstrucción y Declive" começa com os pormenores que influenciaram na crise, como os desmandos no governo Carlos Menem, nos anos 90. Jornalista de economia do "La Nación", Kanenguiser, 42, juntava há anos material para escrever sobre o período.


KIRCHNER Com alta aprovação popular no primeiro mandato (2003-07), Kirchner recuperou a economia, que cresceu no período uma média anual de 8,2%. Teve êxito também na área social: 8 milhões (numa população 40 milhões) saíram da pobreza nos primeiros quatro anos "K". A intervenção do Estado na economia se acentuou com a eleição de Cristina, em 2007. O cenário mudou no ano seguinte, e não só por causa do turvo cenário da crise mundial. O governo enfrentou atritos fortes com produtores rurais ao tentar aumentar a taxa de exportação. A crispação estendeu-se ao empresariado e à imprensa, vista pelo governo como inimiga.

A demanda interna já não acompanha a falta de investimentos externos. A fuga de capitais ainda é rotina, tendo chegado a US$ 60 bilhões nos últimos quatro anos. E o protecionismo virou parte da agenda nacional, efeito sentido principalmente pelas muitas empresas brasileiras na Argentina.

O setor energético, subsidiado, prossegue ocioso e com baixo investimento. A inflação, negada pelo governo, saiu do controle: hoje é estimada por consultorias privadas em 25% ao ano -o índice oficial é de 10%. Não há medidas do governo para conter a subida dos preços, que acaba estimulando a alta do consumo.

Apesar dos índices sociais positivos, cresce a favelização, sobretudo na capital e região metropolitana. Mesmo com programas de distribuição de renda, estima-se que 30% da população viva abaixo da linha de pobreza, cifra contestada pela Casa Rosada (que admite apenas 10%).

CASE Ainda assim, o país cresce. Professor da Universidade Columbia, o Nobel de economia Joseph Stiglitz é um dos entusiastas da Argentina pós "default". "O fim da paridade cambial e o calote tiveram um alto custo, mas, logo após um período de queda, o país começou a crescer muito rápido, inclusive com a ausência do que muita gente considera as melhores práticas econômicas", disse, há duas semanas, ao debater a economia mundial com outros Nobel em Lindau, no sul da Alemanha. Para o bem ou para o mal, a Argentina virou um "case".

"O problema é que tratamos tudo com superficialidade, não aprendemos com a nossa história. Virou tradição a Argentina se chocar sempre com a mesma pedra", diz José Ignacio de Mendiguren, presidente da UIA (União Industrial Argentina). "E olha que a crise foi um dos processos mais ricos de nossa história, em pouco tempo caíram todos os mitos e teorias que em 200 anos levaram a Argentina para o fracasso. É uma pena ela ficar esquecida."

Ex-ministro de Produção do governo Duhalde, Mendiguren voltou neste ano à presidência da UIA, que ocupava quando eclodiu a crise de 2001. "Pelo menos voltamos a ter uma economia real. Hoje pensamos com a nossa própria cabeça, não há um órgão externo ou um banco ditando as regras. Esse foi o nosso maior ganho com a crise", afirma o industrial, fumando um "habano" em sua enorme sala na sede da entidade, num centenário prédio na avenida de Mayo.

Com exceção do kirchnerismo, que se impôs como a maior força do país após a crise, os demais políticos -hoje na oposição- não conseguiram se recompor do baque. Não há nem diálogo entre eles. As eleições primárias do último dia 14 confirmaram o diagnóstico. Cristina recebeu mais de 50% dos votos e deve ser reeleita no primeiro turno, em outubro.

Embalada pela popularidade crescente após a morte de Néstor e pelos bons ventos na economia, ela não fala sobre a crise. "Todos estamos otimistas, nunca ganhamos tanto como agora. E ninguém espera uma nova catástrofe", diz José Montaldo, gerente de uma transportadora de gás, após um debate na sede do Cadal (Centro para Abertura e Desenvolvimento da América Latina), em Buenos Aires.

A entidade é um "think tank" dedicado a discutir a Argentina, em particular, e a América Latina, em geral. O país, dizem, poderia crescer mais que os 8,2% previstos para este ano, sobretudo por causa do bom momento econômico da região. Apesar dos avanços, há um problema de quase 200 anos a ser resolvido: a imensa dívida externa. Segundo o Ministério da Economia, ela está avaliada em US$ 128 bilhões. Não se sabe quando nem se será possível quitá-la.

Já o Racing, neste 2011, completa dez anos sem conquistar um título. A situação financeira, segundo a diretoria, está bem melhor, apesar de o time não ter bala na agulha para contratar reforços. Jogadores, cartolas e torcedores estão otimistas: a Academia, embolada entre os cinco primeiros, briga pela ponta do campeonato nacional.

Os sinais de que a economia ia mal apareceram em 1998, quando o país entrou em recessão após os sete anos em que um peso valia um dólar 

O país colapsou com a renúncia de De la Rúa. Morreram 30, mais da metade da população desceu à pobreza, cinco presidentes ocuparam a Casa Rosada em dez dias 

"As pessoas não querem falar de crise, há um medo de que tudo volte. O governo não fala, a oposição não fala, a imprensa não fala e até a gente se esqueceu de falar" 

Com exceção do kirchnerismo, que se impôs como a maior força do país, os demais políticos, hoje na oposição, não conseguiram se recompor do baque

Sete homens são detidos pelo Garra com armamento pesado para arrombar caixa eletrônico em São Sebastião

Grupo foi pego na noite de quinta-feira em frente à base da Polícia Rodoviária Estadual, em Caraguá, por equipes das Delegacias Seccionais de Guarulhos e Litoral Norte

Mara Cirino

Litoral Norte – Pelo menos sete integrantes de uma quadrilha especializada em explodir caixas eletrônicos foram detidos na noite de quinta-feira, em frente à base da Polícia Rodoviária Estadual, no Km 82 da Rodovia dos Tamoios (SP-99). Com o grupo, foram encontrados dois gorros ninjas, celulares, duas bananas de explosivos e munições calibre 9 mm e 7.6.2, esta de uso exclusivo das forças armadas, além de R$ 350.
A ação foi coordenada por policiais civis do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra), de Guarulhos, e contou com apoio de agentes da Delegacia Seccional do Litoral Norte.
De acordo com o delegado titular do Garra, Paulo Pereira de Paula, as investigações corriam há cerca de 90 dias e culminaram com a informação de que a quadrilha estaria descendo para explodir mais um caixa eletrônico na Costa Sul de São Sebastião. “Esse mesmo grupo foi responsável pela explosão ocorrida no final de julho, em Maresias”, adiantou o delegado.
Os policiais do Garra seguiram três carros - um Ford Focus preto, um Toyota Corolla (roubado) e um Fiat Pálio - ocupados pelos detidos, quando se dirigiam para supostamente efetuar mais um roubo a caixas na região. De acordo com o delegado do Garra, foram contactados policiais civis da Seccional que esperaram no posto da Polícia Rodoviária. “Nós fechamos o cerco, indo atrás dos bandidos e com o apoio da Seccional no final da serra”, disse de Paula.
Foram detidos em flagrante E.S.N., 32 anos, o Escubão, que já havia sido preso pelo roubo de quadros, inclusive do pintor espanhol Pablo Picasso, na Estação Pinacoteca, em São Paulo, ocorrido em 2008, J.B.L., 31 anos, o Jotinha, responsável pelas explosões, M.S.D., 28, D.L.S., 29 anos, S.L.S., 29 anos. Outros dois haviam apresentado documentos falsos, mas foram identificados como D.S.B. e E.P.C.
Após a prisão em Caraguatatuba, o bando levado para o Garra de Guarulhos onde prestou depoimento e depois foi encaminhado para o Centro de Detenção Provisória (CDP) da cidade.
De acordo com o delegado de Paula, essa quadrilha tem em torno de 20 integrantes e com a prisão dos sete, sobe para 16 o total de detidos nos últimos meses. Durante as investigações, o delegado aponta que as escutas mostram trechos da ação da quadrilha em Maresias, onde um dos bandidos, o Jotinha, chegou a falar com a namorada sobre o céu estrelado que estava no momento da fuga de lancha.
O caso ocorreu no dia 27 de julho passado, por volta das 4h da manhã, quando moradores do bairro acordaram assustados com três barulhos de explosões, um seguido do outro. O alvo foi o quiosque do Banco Bradesco localizado na avenida Francisco Loup, que fica em frente ao Maresias Beach Hotel de onde levaram aproximadamente R$ 85 mil.
O impacto da explosão foi tão forte que a porta do cofre teria sido arremessada no muro ao lado, ficando pendurada. Os bandidos conseguiram fugir levando o dinheiro, mas deixaram para trás R$ 3,3 mil em notas de R$ 100, R$ 50 e R$ 20, que estavam manchadas pela tinta rosa usada para identificar esse tipo de ocorrência.
Em patrulhamento pelas proximidades do local, policiais militares encontraram na faixa de areia duas barras de ferro, uma com 1,2 m e outra com 1,5 m, conhecidas como ‘pé de cabra’.
A polícia investiga se a mesma quadrilha teve participações em outros arrombamentos como os ocorridos em Juquehy, na Costa Sul de São Sebastião, e na Massaguaçu, na Costa Norte de Caraguá.
Em entrevista ao Imprensa Livre, o delegado seccional de Guarulhos, Marco Antonio Paulo Santos, explicou que essa quadrilha é da Zona Lesta da Capital e de Campinas, e além dessas cidades, já agiu aqui na região, na macrorregião de São Paulo, no ABC Paulista, Atibaia, além de Belém (PA). “Investigamos ainda como é feita a escolha da área onde eles atuavam”, disse o seccional.
O vereador Celso Pereira esta em dias de gloria após herdar do prefeito ACS o DEM e assumir a presidência da executiva.