Pode ser impressão, mas não me lembro de ter acompanhado outra eleição presidencial em que os candidatos se esquivavam tanto de responder a perguntas objetivas, alegando não possuir os dados do governo federal para fazer maiores comentários.
Anteontem, durante sabatina do Jornal Nacional, o presidenciável do PSDB, Aécio Neves, afirmou que o governo terá de promover um realinhamento dos preços represados, mas não quis dar mais informações. "Só quando eu tiver os dados sobre a realidade do governo." Não foi a primeira vez que Aécio deu esse tipo de declaração na campanha. Sobre outros temas espinhosos, como fim do fator previdenciário, adota a mesma técnica.
Eduardo Campos (PSB) também já usou a "manobra" algumas vezes. Anteontem, na sabatina do G1, questionado sobre quais ministérios pretende cortar, disse que não poderia se antecipar. Declarou apenas que, dos 39, ficaria com 20 ou 22. "Estamos consolidando o nosso programa. Nos próximos dias, lançaremos o nosso programa, e a equipe de transição depois da eleição anunciará um novo organograma do Estado brasileiro", disse Campos.
A execução orçamentária dos ministérios é pública, assim como o número de funcionários e os gastos de cada programa vinculado às pastas. As assessorias dos presidenciáveis mergulham (ou pelos menos deveriam) na estrutura da Esplanada dos Ministérios para fazer um raio-x de como funciona o governo e municiar, assim, os discursos dos candidatos.
Os presidenciáveis - e principalmente a candidata à reeleição - sabem quais pastas são imprescindíveis e quais funcionam apenas como balcão de negócios com o Congresso. Fugir desse tipo de pergunta, mais do que cautela, passa ao eleitor medo de comprometimento. O próprio Aécio já defendeu a extinção do Ministério da Pesca. Em 2010, o presidenciável tucano José Serra disse que acabaria com a Secretaria de Assuntos Estratégicos.
A saída pela tangente em perguntas sobre a administração fica ainda mais crítica numa época em que há dados oficiais correndo soltos pela internet, entre os quais os balanços das estatais. Isso sem contar com a Lei de Acesso à Informação, que obriga o Executivo a prestar contas à população e, por tabela, aos candidatos. Claro que o conhecimento a fundo de questões estratégicas só se dará com o controle da máquina. Mas o que temos visto é o uso desse argumento para fugir de temas polêmicos e até comuns sobre a gestão pública federal.
Seria muito mais interessante para o eleitor se os candidatos viessem a público detalhar as suas propostas. Falar como pretendem fazer o reajuste dos preços represados ou especificar quais ministérios devem sumir do mapa em sua gestão. Sem medo de se comprometer com idéias, com programas.