Políticos usando dinheiro público para benefício
próprio. Compra de votos. Superfaturamento. Tráfico
de influência para "arrumar" a vida dos filhos e agregados.
A mídia tem
sido pouco complacente com a galera que faz política. Ela não larga o pé dos
políticos. Mas nitidamente está sempre visando o Palácio do Planalto.
A mídia, na dúvida, prefere queimar o filme de qualquer um se
a "notícia" der "Ibope". Especialmente se tiver uma
perspectiva, por mais tênue que seja, de que o escândalo conduza ao Lula.
Os escândalos da vida privada, porém, têm um
"tratamento" à parte.
Dependendo do ator do processo a mídia se posta muito mais
cautelosa e até tolerante. Com exceção, é claro, de gente pobre. Gente pobre
recebe o mesmo ou até pior tratamento da mídia do que os políticos. Basta
sintonizar os canais policialescos, aqueles cujos repórteres brincam de ser
policiais e "arrancam" até confissões de acusados de crimes.
Mas vou deter-me a comparar a atuação da mídia apenas entre
os políticos e as celebridades. E nem vou precisar revirar aqui neurônios de
ninguém para relembrar os episódios mais recentes.
As
"celebridades" envolvidas em tráfico de drogas ou crimes, os casos de
infelizes envolvidos no vício de drogas como atores e atrizes globais só para
citar um exemplo, e casos notórios de empresários famosos escravos das "carreirinhas"
do flagelo branco que passam ao largo do bombardeio da mídia, mais centrada com
os políticos.
A mídia, em geral, em vez de deter-se às notícias
simplesmente tentam formar a opinião de leitores, ouvintes e telespectadores
através de comentaristas "especializados" que, nitidamente, tentam
"vender" a idéia de que "os exemplos, devem vir de cima",
dos políticos, como se, de fato, eles estivessem "em cima" de nós,
uma filosofia, no mínimo aristocrata e portanto antiga.
O papel do
conjunto de concessões públicas que compõem a mídia brasileira deveria ser ou
se deter a publicar as informações fosse quais fossem, sim, mas sem o pretenso
objetivo de formar opinião.
O povo não
precisa de cabresto de jornalistas confusos ideologicamente que outrora foram
comunistas e hoje professam o neoliberalismo, o entreguismo.
Será que não
bastou os séculos de currais eleitorais e voto cabrestos a que foram submetidos
os brasileiros da zona rural?
Agora, a mídia
também quer encabrestar o povo?
Os
comentários a partir de fatos políticos poderiam até existir mas sempre com o
direito fundamental do contraditório.
Como, aliás, está sendo feito agora que a oposição está na
berlinda com o Ex-Presidente do PSDB agora réu de processo de corrupção assim
julgado pelo STF e os escândalos do Governador do DF filiado ao DEM, ex-PDS,
ex-PFL, ex-ARENA, pois me nego a falar da sigla desse partido sem relembrar
suas origens.
A mídia, no entanto, sempre preferiu criar um cenário de
inquisição onde a pessoa é julgada e condenada à revelia da Justiça e tudo na
frente de milhões de brasileiros atônitos.
A corrupção é um flagelo da humanidade. Do ponto de vista
sociológico e antropológico.
As comunidades são corruptas. Não importa o país, a
ideologia, a raça, o status social, o gênero.
Estatisticamente falando, o que eu quero dizer é que numa
sociedade, sendo o conjunto universo sujeito à corrupção, qualquer amostra dele
retirada terá a mesma proporção de corrupção.
Assim, se no processo eleitoral de uma cidade qualquer, as
mazelas políticas e a corrupção campeia, tanto ativamente (na oferta de
vantagens) como passivamente (na demanda de favores) é lógico que a Câmara dos
Vereadores locais estará ungida da mesma proporcionalidade de corrupção passiva
e ativa do município, ou seja, de vereadores honestos, limpos e também de
vereadores que burlaram as leis eleitorais, compraram votos em troca de favores
futuros, buscaram financiamentos escusos em troca de alianças futuras nos
superfaturamentos.
O mesmo vai acontecer no nível Estadual e, obviamente, o
mesmo no nível Federal.
Ora, ficarmos na expectativa de que os políticos que são
oriundos da sociedade de exemplos para nós é no mínimo um contra-sensor.
Para que possamos eleger políticos que sirvam de exemplo,
temos que fazer a avaliação desses políticos de preferência no dia-a-dia de
suas atuações legislativas.
E quem faz isso? Quem fica quatro, cinco horas plugado na TV
Senado ou TV Câmara?
Quem tem tempo
para ficar vendo TV prefere assistir programas leves de qualidade duvidosa como,
por exemplo, o programa da apresentadora Angélica cujas indagações aos
participantes de seus "quadros" lamentáveis são de uma futilidade
atroz e estão contidos em detalhes imbecis de capítulos das novelas globais uma
política de sanidade duvidosa que coloca a emissora na mesma situação do
cachorro que fica girando, tipo, "correndo" atrás do rabo?
Dessa forma, a mídia entorpece a sociedade e, quando aparece
algum escândalo no Congresso ela sai detonando o político, especialmente se ele
é contrário aos interesses ideológicos da elite na qual a mídia se insere.
Surgem assim,
verdadeiros "tribunais" inquisitórios como "as meninas do
Jô" e o próprio Gordo que tenta alavancar a audiência de seu programa com
um grupo de jornalistas ou pseudo-jornalistas que, na ânsia de aparecer,
"caem" matando quem estiver na berlinda naquele momento com a certeza
de que a emissora que norteia suas opiniões os livrará de eventuais processos
de difamação e danos morais.
Por que nesses
"tribunais" não são convocados jornalistas de opinião contrária ou
mesmo os próprios "acusados" para se defenderem, na hora? Eis a
característica inquisitória desse tipo de programa.
Agora, quando
se trata de corrupção na iniciativa privada ou mesmo quando essa se dá
justamente em países que a mídia sempre se avassalou apontando-nos como
paradigmas, como as dezenas de Lords ingleses pegos em maracutaias iguais ou
até piores que as dos congressistas brasileiros a mídia "pega leve" e
não estende as reportagens como faz com os políticos brasileiros.
E quando os escândalos atingem a vida privada, como o caso da
Fórmula Um, quando o jovem "Nelsinho" Piquet confessou uma ação
espúrea provavelmente cooptado pela equipe, a mídia é complacente, pois,
convenhamos, qualquer escândalo nas corridas, não vão interessar à mídia, no
caso à TV Globo, já que as conseqüências vêm à cavalo com perda de pontos na
luta pela audiência. Muita gente vai deixar de ver corridas se souber que
existem fraudes no círculo da F1.
Então,
similarmente à determinação que foi dada ao Barrichelo para deixar o Shumacher
passar, assim como veio a ordem ao Nelsinho para bater no muro, virá certamente
uma ordem da direção da Globo para limitar a exploração do assunto. Ou seja,
censura prévia dentro da própria emissora.
Mas voltando para o assunto da corrupção e se os exemplos
éticos devem vir de cima prá baixo ou de baixo prá cima, o certo é que não
existe revolução de cima prá baixo. Existe sim revolução de baixo para cima.
Não podemos ficar atirando pedras nos telhados do Congresso
se mães fazem os trabalhos escolares dos pequeninos para
"impressionar" as "tias" dos jardins de infância com a
"inteligência" dos seus rebentos...
A rede Globo
ao investir-se de um corregedor da coisa pública deve ter sido alertada por sua
consultoria jurídica para não deixar o próprio rabo na reta.
Refiro-me aos costumeiros informes que a emissora dá no meio
das notícias de viagens de autoridades brasileiras em que os repórteres globais
viajam juntos usufruindo do transporte público patrocinado pelo governo.
A TV Globo, por motivos óbvios, faz questão de frisar que
calcula o valor da passagem de seu pessoal-carona e doa o valor ao Programa
Fome Zero por exemplo.
Uma espécie de
salvo conduto para continuar descendo o pau nos políticos e especialmente no
próprio governo que lhe dá carona numa tentativa patética de mostrar-se ética e
acima de qualquer suspeita.
Essa política
de cautela acusatória também é adotada nas questões religiosas e na briga por
audiência.
A Globo, uma emissora sabidamente católica, fez uma série
inusitada de reportagens especiais sobre as ações caritativas de diversas
facções de igrejas evangélicas para ter uma espécie de álibi para "cair matando"
em cima da Igreja Universal do Reino de Deus e sobre a TV Record no recente
episódio em que aquela igreja foi formalmente acusada de diversos crimes
centrados no desvio de suas finalidades.
Outrora a rede
Globo já se digladiava com a tal igreja do Bispo Macedo, porém agora, de pá em
punho e com o mesmo aparato de demonstração de ética (não fazer discriminação
religiosa) mostra em suspeitos 10 minutos de reportagem em horário nobre do JN
requintado ácido destruidor do "quarto poder", um poder não constitucional
mas que, de fato, está instalado em nosso país.
Não teremos políticos exemplares se tivermos complacência com
nossos filhos adolescentes pegos colando na escola.
Não teremos políticos honestos se formos complacentes com
parentes ou vizinhos que espancam suas esposas ou agridem sexualmente crianças.
Eis a corrupção instalada na sociedade, no dia a dia.
Corrupção deveria ser matéria nas escolas. Desde o primeiro
grau.
Saber tudo
sobre corrupção não impedirá ninguém de ser corrupto. Mas, certamente, traria
muito mais reflexões a todos no momento de avaliar a relação custo x benefícios
e decidir com muito mais dignidade a respeito das ofertas espúreas das
oportunidades suspeitas.
]
Foi o que deve ter ocorrido com o Nelsinho Piquet. Acabou se
arrependendo. E amargamente.
Mas certamente
coisas parecidas já ocorrem com meio mundo...
Vender-se por solicitação do chefe, pela
"oportunidade" no emprego.
Fico
imaginando o dia em que os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário
"resolverem" se juntar para pegar no pé da mídia.
Fico
imaginando a Receita Federal, policiais militares, civis e federais de campana,
"na cola" de diretores, Chefes, Jornalistas e Repórteres depois de
encerradas suas pautas e "fechado" os editoriais só para verificar o
que eles também aprontam a partir do happy
hour seja nas rodas de jogos
de cartas ou nos botecos a partir do primeiro gole de choppe...
Quem nunca
viu um repórter, um fotógrafo ou um jornalista cambaleando de porre, cheio de
cachaça, bem no estilo cu de
bêbado não tem dono?
E o que mais que eles bebem, fumam ou cheiram? Será que um
dia publicarão uma devassa interna como estão sempre sugerindo que se faça em
todos os escalões do governo?
Se teoria da
amostragem estatística que falei acima for realmente verdadeira, não vejo
chance de haver "santos" no meio jornalístico também.
E a conclusão
que se chega quando nos negamos a permitir que nossa opinião seja formada
"na marra" é que estamos diante de sujos, falando de mal lavados.
Por: Guilherme AAraújo – Consultor de negocio e políticas.