“O senhor gostaria de carne ou frango?” Quem está acostumado a viajar de classe econômica já decorou a pergunta que o comissário faz enquanto segura as duas bandejinhas e olha nos olhos do passageiro. Na verdade, você gostaria mesmo é de uma torta. Ou, talvez, uma salada caprichada. Quem sabe até de um cardápio, onde pudesse ter o luxo de escolher o prato - algo reservado apenas a quem está do outro lado da cortina, na primeira classe do avião.
Enquanto é grande o número de pessoas que reclama da comida servida em aviões, poucos são aqueles que a cobrem de elogios. Cientes de que agradar o paladar de potenciais passageiros fiéis pode refletir em uma medida com fins para lá de lucrativos, aéreas tradicionais (ou seja, cuja principal preocupação não é oferecer voos baratíssimos), têm prestado atenção neste nicho.
A aposta principal é investir em doses extras de atrativos gastronômicos que recheiam os serviços de bordo - desta vez, não apenas para quem pode pagar muito mais pelo bilhete. Afinal, é o próprio chef executivo de desenvolvimento da companhia de catering LSG Sky Chefs, Adriano Capra, quem faz a comparação e dá a receita: “Você pode ir a um restaurante cinco estrelas e pagar muito por isso, ou ir a uma praça de alimentação e pagar menos. São segmentos distintos, todos importantes e cada um tem seu papel.”
Listamos aqui, então, os serviços e novidades de algumas empresas aéreas. Afinal, o quesito paladar também pode influenciar na hora de comprar a próxima passagem.
KLM: Na empresa holandesa, o sonho de escolher as refeições na classe econômica se torna realidade - contanto que você pague 15 euros e faça o check-in online entre 24 e 30 horas antes do voo. Lá você escolhe entre as opções, que incluem entrada, prato principal e sobremesa, e vão de culinária oriental e indonésia a pratos orgânicos.
Singapore: Os chocolates de Cingapura podem não ser tão famosos, mas na companhia Singapore Airlines eles são exclusivos A empresa é a única cujo catering produz sua própria guloseima de cacau, servida em todos os voos, para todos os passageiros. Crianças entre 2 e 7 anos que têm o privilégio de viajar de primeira classe, dispõem do programa Yummy, que possibilita escolher entre 12 possibilidades de menu até 24 horas antes do voo: pode ser macarrão com almôndegas, panquecas ou até arroz refogado com frutos do mar.
TAM: Desde 2010, a companhia brasileira contratou a especialista em chás Carla Saueressig para criar uma bebida vermelha, cor símbolo da empresa, misturando frutas e ervas da Amazônia. Você pode pedir o seu depois da refeição, como uma variação do cafezinho tradicional.
Lufthansa: Além de chefs renomados que conduzem os menus da primeira classe e executiva, a Lufthansa elabora, desde o ano passado, o que chama de “Lufthansa Classics”. São pratos tipicamente alemães, oferecidos como opções aos principais, e que mudam de acordo com a época do ano. Em julho e agosto, o especial é o filé de truta müllerin, preparado pelo chef suíço Roland Schmid.
Avianca: Se já é difícil se animar com a comida servida em voos longos, imagine nos trechos muito curtos, como na ponte aérea Rio - São Paulo. Pensando neste filão, a Avianca montou um cardápio especial para voos que partem a partir das 11 horas. Na lista, manjares, bolos, crepes e lanches quentes prometem uma viagem mais agradável.
Turkish: Desde março, o programa Chef on Board leva em todas as viagens que saem de São Paulo um chef, que tem a responsabilidade de finalizar os pratos e garantir que cheguem à sua mesinha o mais frescos e bonitos possível. Além da classe executiva, o serviço se estende à Comfort Class - intermediária entre a econômica e a executiva. São 180 chefs treinados como tripulantes, vestidos a caráter e desfilando pelos corredores do avião prontos para esclarecer qualquer dúvida - e tirar fotos com quem quiser.
Emirates: Um cardápio de papel, também para a classe econômica, convida os passageiros a escolher entre três opções de pratos principais, inclusive no café da manhã. O menu é renovado a cada mês e inclui sempre receitas locais - como caipirinha e pastel, no caso do Brasil. Quem quiser pedir refeições ricas em fibra, somente com alimentos crus, sem lactose ou até pratos com pouca caloria (para não sair da dieta) também pode solicitar à companhia.
Regras garantem qualidade dos alimentos servidos à bordo
São Paulo (AE) - Imagine um ambiente fechado, com 300 pessoas, apenas seis banheiros e doze horas de reclusão. Melhor não correr o risco de a comida fazer mal aos passageiros, não é? Por isso, os caterings de companhias aéreas seguem à risca a Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (HACCP na sigla em inglês). Trata-se de um sistema de regras de segurança alimentar cujo objetivo é minimizar o risco de contaminações.
Cada etapa do preparo das refeições - desde a seleção de fornecedores, recebimento e armazenamento de mercadorias, linha de produção de processos, até a entrega final do produto - deve obedecer a critérios como controlar a temperatura em cada fase de produção e servir sempre refeições frescas e sem conservantes Mas o modo de cozimento é o convencional.
“O preparo e tempero dos pratos servidos a bordo não são diferentes dos demais, com exceção de que não se deve servir alimentos de difícil digestão ou comidas muito condimentadas”, explica o chef Adriano Capra, da empresa de catering LSG Sky Chefs.