Um depoimento bombástico prestado na Corregedoria de Polícia Civil pelo delegado Cláudio Ferraz, da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), revelou os bastidores da Operação Guilhotina. A ação levou 38 pessoas para prisão, incluindo 30 policiais e o ex-subchefe de polícia, delegado Carlos Oliveira.
Entre as revelações, registradas em nove páginas de depoimento, que acabou vazando, está o fato de que a testemunha Magno Carmo Pereira teria sido ameaçada de morte pela equipe que o prendeu, ou seja, por policiais do grupo do inspetor Leonardo da Silva Torres, o Trovão. Eles teriam passado horas com o preso, a fim de que ele não contasse os crimes cometidos pelo grupo à Polícia Federal. A tortura psicológica teria incluído, segundo o depoimento, ameaças à família de Magno, que, mesmo assim, contou o que sabia ao depor na PF, desencadeando a Operação Guilhotina.
Em outro trecho do depoimento, Cláudio Ferraz afirma que o ex-subchefe de polícia, delegado Carlos Oliveira, esteve pessoalmente na Draco, em janeiro de 2010, afirmando saber dos bastidores das investigações da Operação Guilhotina. Na ocasião, Oliveira teria até elogiado o PM Ricardo Afonso Fernandes, o Afonsinho, apontado como chefe da milícia da favela Roquete Pinto, em Ramos.
Ferraz esclareceu, nesta quarta-feira que, quando se disse surpreso com a operação na Draco no último domingo, referia-se à maneira como a delegacia foi lacrada pela equipe da Core e não, como foi publicado na quarta, por desconhecer as denúncias com informações anônimas recebidas contra sua gestão. Segundo o delegado, ele sabia há algum tempo dessas acusações. Ferraz preferiu, no entanto, não comentar seu depoimento na Corregedoria.
Leia alguns trechos do depoimento:
‘Elite da tropa 2’
"Que gostaria de esclarecer que no dia 7 de outubro de 2010, após o lançamento do livro ‘Elite da tropa 2’, no qual o declarante é co-autor, algumas histórias contadas na obra em tom de ficção deram origem, na vida real, no desencadeamento da Operação Guilhotina".
Onda de boatos
"Que a partir da publicação da obra, iniciaram-se ondas de boataria em torno de seu nome".
Registro na agenda
"Que vários boatos foram ventilados na imprensa e nos corredores de delegacias especilizadas deste estado. Que a título de exemplo, cita os seguintes boatos lançados em sua agenda pessoal no dia 23 de outubro de 2010 e que foram registrados com o fito de documentar inverdades lançadas em torno de seu nome".
Acusado de traição
"São os seguintes: que o declarante era traidor da Polícia Civil; que existia uma imagem em vídeo na qual o inspetor Gehard receberia a quantia de R$1 milhão... Que a Draco seria a delegacia que realizaria as maiores ‘mineiras’ no estado do Rio".