Alerta que Lula fez na Bahia, de que as ameaças de golpe não serão mais toleradas, serve também para que se insista com uma pergunta que ninguém do governo, incluindo civis e militares, deve querer ou saber responder.
Essa é a dúvida que atormenta os pretensos golpistas: quem entre eles teria coragem de levar adiante um golpe, num momento em que Bolsonaro é um traste em decomposição?
Não é uma pergunta retórica. É um questionamento concreto, a partir das ameaças feitas até agora. O general Braga Netto, na condição de vice de Bolsonaro e ex-ministro da Defesa, assumiria o risco de ser o comandante militar do golpe?
O trio de chefes das três armas, que substituiu três colegas legalistas, em março do ano passado, teria como dar suporte militar a um golpe comandado por Bolsonaro, ao lado dos filhos dele e com a assessoria de milicianos ligados à família?
É complicada a situação dos líderes militares. Porque a ameaça de golpe feita por Bolsonaro depende da garantia de que os comandantes fardados ou apijamados estarão com ele.
E, se estiverem, estarão juntos também com a base operacional golpista que Bolsonaro pretende acionar, com polícias militares, população civil armada e milícias.
No entrevero do que seria o caos provocado por Bolsonaro, antes ou durante ou depois da eleição, que papel seria o das Forças Armadas, na ambição de atuar como moderadora de um conflito grave que está ajudando a fomentar?
A melhor frase de Lula, no discurso desse sábado em Salvador, depois do alerta aos militares, é a que adverte para que os brasileiros não embarquem na conversa do golpe:
“Não aceitem o terrorismo, não acreditem no terrorismo que é feito na televisão de que vai ter golpe”.
É um recado para parte da própria esquerda, que vem se encarregando de passar adiante o medo disseminado por Bolsonaro, por Braga Netto, naquela reunião com empresários no Rio, e pelos filhos de Bolsonaro.
Vamos parar com a propagação do medo de que vai ter golpe. Inspirem-se na sabedoria de Lula, que recomendou aos militares golpistas para parem de blefar.
E também para que os militares legalistas comecem a se manifestar em favor da eleição, do sistema de votação e apuração e das instituições.
Bolsonaro e os militares sabem que não há como aplicar e manter um golpe. Sabem que Bolsonaro não consegue nem organizar uma motociata na Bahia.
Os militares estão sabendo que a Marcha para Jesus, sábado passado em Balneário Camboriú, poderia ter sido um sucesso como evento religioso se não tivesse a presença de Bolsonaro. Foi um fracasso da extrema direita catarinense.
Eles sabem bem que não vai ter golpe. E que essa não é uma frase ou um grito de guerra desmoralizado pelos fracassos das tentativas de resistência em 2016 e 2018.
As frases da resistência continuam vivas e ainda funcionam. O que se depreciou e deixou de funcionar foi a coragem das elites e da classe média acovardada, que poderiam estar enfrentando o golpismo.
O bolsonarismo conseguiu a façanha de encorajar os covardes a serem ainda mais covardes, e essa é a inércia explorada pelos blefes do golpe.
Mas agora chegou. Parem com as ameaças que têm sido desmentidas pelos próprios ameaçadores dias depois, ou enfrentem suas consequências logo adiante.
O recado de Lula de que não vai tolerar ameaças, esse sim em nome da Constituição e da democracia, está dado. E Lula é o único que pode mandar recados hoje. Eles sabem.
(*) jornalista, autor de Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre. É membro da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e dos Direitos Humanos da ABI.
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