Por Fátima Lacerda e Marcos Gomes, da Comissão pela Igualdade Étnico-Racial da ABI
Nove anos depois da violenta desocupação da Aldeia Marakanã (2013), no Rio, o desejo de preservação do território se mantém, acompanhado do sonho de instalar, no prédio do antigo Museu do Índio, uma universidade voltada para a preservação da cultura dos povos indígenas. Dispostas a resistir, em 2016 algumas etnias voltaram a ocupar a Aldeia, enquanto aguardam o desfecho das ações jurídicas que correm nos tribunais há mais de 15 anos, na disputa travada com o governo do Estado.
O velho casarão, construído no século XIX, foi transferido ao Serviço Nacional do Índio em 1910, na época do Marechal Rondon, sendo a sua primeira sede. Mais tarde também abrigaria o Museu do Índio, até a década de 1970, quando seu acervo foi para Botafogo. Permaneceu abandonado até ser reivindicado pelos povos indígenas que alimentavam o desejo de manter uma aldeia urbana, onde indígenas poderiam se hospedar na passagem pelo Rio de Janeiro, e onde as questões indígenas poderiam reverberar, alcançando maior repercussão nacional e internacional. Os sonhos viraram pesadelo quando o governo Sergio Cabral decidiu por abaixo o patrimônio, para em seu lugar construir um estacionamento. Apesar do abandono, o prédio continua de pé, mas as querelas judiciais parecem longe do fim.
Em visita à Aldeia, a Comissão pela Igualdade Étnico-Racial da ABI, representada pelos jornalistas Marcos Gomes e Fatima Lacerda, foi recebida pelo cacique José Guajajara. Ao lado dos Guajajara continuam na resistência os Guarani, Tupinambá, Puri, Xocó, Ashaninka, Potiguara e Ticuna. José Guajajara é professor. Uma de suas preocupações é fazer valer a Lei 11.645. de 2008, que institui o ensino das culturas e línguas indígenas nas escolas. Desde a pandemia, passou a dar aulas on line em língua tupi: “Além das crianças indígenas, recebemos estudantes da Alemanha, Estados Unidos, Austrália e de várias partes do Brasil, preocupados com a preservação da nossa cultura, tão ameaçada”.
Dialogar com as instituições que apóiam as causas indígenas é uma das preocupações de Zé Guajajara – como costuma ser chamado. Outra prioridade é “mobilizar os parentes com direito a voto, para mudar os rumos desse país”. O Estado do Rio mantém aldeamentos indígenas em Maricá, Angra dos Reis e Paraty. O cacique também participa do Centro Étnico de Conhecimento Socioambiental que funciona no Complexo do Alemão. Ao saber que a ABI pretende realizar, em 2023, o I Encontro de Comunicadores Indígenas, elogiou a iniciativa e aproveitou para recordar os momentos em que esteve no auditório da Casa dos Jornalistas, “uma entidade que sempre apoiou os indígenas “ – ressaltou.
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