O principal índice da bolsa fechou no vermelho no dia seguinte à aprovação da reforma da Previdência em 1º turno na Câmara, quebrando uma rara sequência de 5 dias de alta. Não deveria ser o contrário? Para analistas do mercado, a ressaca já era esperada. Mesmo com uma perspectiva positiva para o longo prazo, uma combinação de fatores explica essa quebra de euforia das últimas semanas.
O Ibovespa fechou em baixa de 0,63% nesta quinta-feira (11), aos 105.146 pontos, afundado principalmente por ações do setor bancário (Banco do Brasil, Itaú e Bradesco). Já o dólar cedeu 0,19%, a R$ 3,7515 reais, acompanhando a baixa para a moeda no exterior. Foi a menor cotação desde 27 de fevereiro.
“Sobe no boato, cai no fato”
A explicação mais óbvia para a queda do Ibovespa é o famoso “sobe no boato, cai no fato”, diz o especialista em ações da Levante Investimentos, Eduardo Guimarães. No último mês, o Ibovespa acumulou valorização em torno de 8% ancorado por expectativas de que a reforma seria mesmo aprovada. No ano, o indicador subiu quase 20% na véspera.
No movimento de ajuste, os investidores aproveitam para vender seus papéis após um período de forte valorização dos ativos – seguindo a recomendação de comprar na baixa e vender na alta. “É um saudável e esperado momento de realização de lucros”, diz Guimarães.
À agência Reuters, o gestor de portfólio Guilherme Foureaux, sócio na Paineiras Investimentos, lembrou que não se pode esquecer que a bolsa subiu de 95 mil para 105 mil em poucos dias.
A correção tende a ser breve, especialmente diante da perspectiva de que a reforma, assim que aprovada de forma definitiva, deve facilitar o início de um ciclo de recuperação econômica e reequilíbrio das contas públicas, principal vetor para atrair investimentos estrangeiros.
O assessor de investimentos da Improve, Luiz Mariano de Rosa, acredita que a partir de agora os investidores começam a ficar mais seletivos com os papéis, avaliando com mais atenção quais deles estão caros ou baratos. “Tudo o que aconteceu de bom até agora na bolsa já está no preço”, diz.
Risco de desidratação assusta
Outro motivo para a cautela é o fato de que os parlamentares ficaram de apreciar 20 destaques do texto-base da reforma que tratam de condições especiais para policiais e mulheres. A depender do resultado, as mudanças poderiam desfigurar parte da proposta e reduzir a economia prevista para os próximos 10 anos em cerca de R$ 300 bilhões, podendo jogar um balde de água fria no mercado.
“A vantagem por muitos votos no placar do texto base foi importante, mas a desidratação da reforma através dos destaques ainda é possível, resultado de insatisfações com o Planalto, que ainda não teria atendido às promessas que fez aos deputados”, escreveram analistas da XP em relatório.
Projeções otimistas até o fim do ano
Se as projeções de analistas e gestores de recursos se confirmarem, a Bolsa brasileira encerrará 2019 em um ciclo bastante virtuoso, atingindo patamares inéditos. Apesar da correção vista hoje, o mercado vê um potencial de forte alta para os próximos meses e ao longo de 2020.
Em relatório enviado nesta manhã, o Bank of America Merrill Lynch reforçou que projeta o Ibovespa a 120 mil pontos no final do ano. O banco destacou que a aprovação da reforma previdenciária ainda em 2019 poderia desencadear um ‘re-rating’ do Ibovespa, enquanto o corte nos juros neste ano continuaria a transferir fluxo de recurso para ações.
A equipe da XP vê potencial um pouco mais modesto, de 115 mil pontos até o final do ano e 140 mil até o final de 2020. “Existe incerteza ainda quanto ao calendário [do restante da reforma], mas os riscos estão sendo cada vez mais mitigados, e vemos este momento como transformacional para o país”.
O Bradesco BBI revisou o preço-alvo do índice de 116 mil para 122 mil pontos até o final do ano, um “upgrade” de 15% em relação ao nível atual. “Nossa base agora prevê a implementação de uma forte medida fiscal, com o prêmio de risco em 1 ano convergindo para a média histórica”, escreveram analistas a clientes.
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