Em texto que servirá de base para a primeira reunião do Diretório Nacional do PT depois da eleição de Jair Bolsonaro (PSL) o partido tenta demarcar diferenças em relação a outros setores da centro-esquerda. No documento preliminar, ao qual o Estado teve acesso, o PT promete fazer “oposição global” ao governo eleito, alfineta setores da esquerda que se recusaram a apoiar Fernando Haddad no segundo turno da disputa presidencial, mas admite que opositores de diferentes matizes podem “coexistir”.
Embora não cite nominalmente Ciro Gomes, trechos do texto foram feitos sob encomenda para o candidato derrotado do PDT quando fala dos setores que se omitiram no segundo turno.
“Somam-se a eles políticos oponentes ao golpe, que duvidavam da força do PT, imaginavam chegar ao segundo turno e, frustrados, tentam 'culpar' nosso partido pela performance obtida”, diz o documento. “A campanha contra o PT visa, em parte, adubar o terreno para algumas pretensas candidaturas às eleições de 2020 e 2022. Outro objetivo declarado é afastar o PT da linha de frente da oposição a Bolsonaro”, completa.
O texto será levado a voto na reunião do Diretório Nacional do PT marcada para sexta-feira, 30, em Brasília, e pode sofrer acréscimos e alterações. Em outro trecho, o partido abre a porta para composições com outros grupos de oposição, apesar das diferenças. “Sabemos que existem entre os oposicionistas diferentes projetos estratégicos, partidários e eleitorais. Na prática, é possível que coabitem diversas articulações frentistas autodenominadas amplas e democráticas”.
Em entrevista ao Estado, o senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro e articulador de um bloco de centro esquerda com PSB, PC do B e partidos de centro-direita, disse que não pretende ser “oposição sistemática nem situação automática” em relação a Bolsonaro.
O texto, elaborado por uma comissão composta por integrantes de todas as correntes petistas, faz o balanço e aponta as prioridades do partido para o próximo período. Segundo o documento, o PT vai atuar em duas frentes. A primeira, popular, em defesa de direitos sociais e trabalhistas. A segunda, democrática, contra possíveis retrocessos na área dos direitos civis.
A autocrítica, cobrada por setores da centro esquerda e alas do próprio PT, se resume aos erros políticos dos governos petistas e não admite falhas no campo ético. Ao contrário, quando fala em corrupção o documento preliminar usa o tema como pretexto para perseguição ao partido. “A defesa do PT, em particular, exigirá um trabalho profissional de 'reconstrução da imagem'. Fomos vítimas de uma campanha de terrorismo cultural (…) Nesse sentido, merece especial atenção o tema da corrupção (…) cabe ao PT combater as campanhas hipócritas e difamatórias contra o partido”, diz o texto.
O partido também admite erros na área de comunicação e elege como prioidade a reconexão com as bases populares históricas, hoje sob influência de adversários como as grandes Igrejas evangélicas. “ O principal desafio é o de colocar, como tarefa central do Partido e de cada um de seus militantes, ir ao povo, dialogar com o povo, organizar o povo, participar das lutas cotidianas da classe trabalhadora. Não cabe terceirizar esta que deve ser a principal tarefa do PT”.
Além de indicar Haddad como protagonista na defesa dos interesse do partido nos próximos anos, o PT admite que cometeu erros políticos em série mas conseguiu sair “inteiro” da eleição e ter papel de destaque graças à popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso e condenado na Lava Jato. “Nossas debilidades políticas, organizativas e de comunicação, especialmente no trato de problemas que afetam os setores mais populares das classe trabalhadoras brasileiras, foram compensadas pela ação da militância; pelo prestígio e força eleitoral do companheiro Lula, sobretudo no Nordeste”.
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