O banco estatal de desenvolvimento do Brasil está tornando a luta do país contra a inflação ainda mais difícil.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cujo portfólio de empréstimos, de mais de US$ 170 bilhões, é maior que o do Banco Mundial elevou sua principal taxa de juros em dois pontos porcentuais neste ano, para 7 por cento. A taxa básica do Banco Central, a Selic, está no nível mais alto em nove anos, de 14,25 por cento.
O dinheiro barato do BNDES está fluindo para a economia em um momento em que o BC está tentando desesperadamente restringir o crescimento do crédito que tem impulsionado o aumento da inflação. O empréstimo subsidiado é uma das razões pelas quais a inflação atingiu o nível mais alto dos últimos 12 anos, de 9,77 por cento, mesmo o Brasil sofrendo sua pior recessão em 25 anos.
“A taxa Selic precisa subir mais que o devido para reduzir a inflação, porque uma parte significativa do mercado de crédito que tem acesso ao crédito subsidiado não reage aos seus aumentos e isso diminui a eficácia das ações do BC”, disse Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro e atualmente economista-chefe do Banco Safra SA.
O BNDES, que tem sede no Rio de Janeiro, não respondeu aos pedidos para comentar o fato de seu crédito estar minando o esforço do governo para conter a inflação, enquanto o BC preferiu não comentar o assunto.
A autoridade monetária elevou os juros em 3,25 pontos porcentuais nos últimos 12 meses, maior incremento entre os países do Grupo dos 20, em uma tentativa de conter uma inflação mais de duas vezes superior ao centro da faixa-meta oficial.
Medidas de austeridade
Os empréstimos do BNDES também estão custando cerca de R$ 37 bilhões (US$ 9,5 bilhões) ao país em um momento em que o governo tenta impor medidas de austeridade para evitar mais rebaixamentos em sua nota de crédito soberano, segundo Kawall. Isso ocorre porque o Tesouro gera crédito a uma taxa próxima à Selic e depois empresta ao BNDES o dinheiro, que o banco utiliza para conceder crédito pela taxa subsidiada.
Como resultado, a dívida bruta do país cresceu para cerca de 65 por cento de seu produto interno bruto. Quando a presidente Dilma Rousseff, que está tentando evitar um impeachment, assumiu, em 2011, a proporção era de 52 por cento.
“As dinâmicas da dívida do governo federal pioram cada vez que o balanço do BNDES se expande”, escreveu Daniel Tenengauzer, chefe de estratégia de câmbio para mercados emergentes da RBC Capital Markets, em um relatório de 19 de outubro. O BC “precisa elevar as taxas significativamente mais do que o normal a cada subida da inflação”.
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