A ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cenário político nacional, num momento em que aumentam as pressões para que se investigue a sua conduta em determinados escândalos, como o que envolveu a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha, tem chamado a atenção de analistas políticos. Na avaliação de Marco Antonio Carvalho Teixeira, cientista político, professor e vice-coordenador do curso de administração pública da FGV, o sumiço de Lula é sintomático, sobretudo para alguém que sempre se expôs muito na mídia e não deixava os adversários sem respostas, inclusive na eclosão do caso mensalão.
"Pode ser que Lula já sentiu o golpe (desses ataques), pois o recolhimento indica que ele não tem muitas respostas a dar neste momento. Ele não foi nem na posse do prefeito eleito Fernando Haddad, seu afilhado político", reitera o professor. Carvalho Teixeira - autor da expressão "efeito teflon de Lula", para designar que nada grudava na imagem do então presidente que pudesse comprometer a sua popularidade, quando estourou o escândalo do mensalão - acredita que toda essa pressão sobre o petista pode vir a afetar a sua imagem, inclusive fora do País. "É bom lembrar que todo teflon (material antiaderente) tem o seu prazo de validade", reitera.
Para o professor da FGV, mesmo com a perspectiva de que a saída de Lula do cenário nacional poderá afetar a sua imagem e consequente popularidade, ainda não é possível mensurar, neste momento, o impacto que isso poderá ter nas eleições gerais de 2014. "Com relação à sua afilhada política, a presidente Dilma Rousseff, creio que ela poderá ser afetada não pelo sumiço ou falta de explicações de Lula, mas pela própria conjuntura econômica e pela iminente crise energética, com ameaça de apagões e de redução de investimentos, o que futuramente poderá afetar o nível de emprego."
A mesma opinião é partilhada pelo especialista em pesquisas eleitorais e marketing político Sidney Kuntz. Na sua avaliação, o ex-presidente Lula está dando sinais de que quer fugir desses focos de incêndio (os escândalos que envolvem o seu nome). Para Kuntz, independentemente do desfecho de uma investigação pela Procuradoria Geral da União (PGU), Lula deverá continuar ''recolhido'', esperando os focos de incêndio se acalmarem.
"É uma estratégia correta do ponto de vista eleitoral, pois estamos ainda a dois anos do pleito e, neste momento, o eleitorado está preocupado com outras questões, como férias e carnaval", reitera o especialista em marketing político. E complementa: "Então, esse é o período ideal pra ele tentar se poupar, deixar os escândalos pipocar e retornar quando o cenário estiver mais calmo, quem sabe com alguma nova estratégia, se reinventando, como é o seu estilo."