Com uma campanha enxuta e sem alianças partidárias, a candidatura de Marcelo Freixo (PSOL) à Prefeitura do Rio de Janeiro é a principal concorrente ao favoristismo do atual prefeito, Eduardo Paes (PMDB). Sem romper a barreira dos 20% das intenções de voto, Freixo fala sobre sua campanha e ataca o adversário:
Por que a 'Primavera Carioca' ainda não floriu?
Acho que já floriu. A Primavera Carioca já está acontecendo. Essa é uma campanha histórica, uma campanha que devolveu à juventude a vontade de fazer política. A gente tem um minuto e 22 segundos na TV, está enfrentando a maior máquina eleitoral que já foi montada na história política do Rio e está polarizando no primeiro turno. Levar a eleição para o segundo turno não determina o sucesso da campanha. A vida não acaba no dia 7.
O senhor sempre fez críticas à política de alianças do prefeito e, durante a campanha, foi revelado que havia um candidato ligado a milicianos na nominata do PSOL. Isso não o tornou refém de seu próprio discurso maniqueísta?
São casos diferentes. Eles também têm candidatos a vereador citados no relatório da CPI das Milícias. Mas esse não é um debate moralista. Não se trata se o PSOL é bom ou ruim. O debate é sobre definição do grupo político que você chama para governar. Não debato se o Eduardo é ou não honesto. Ele, como prefeito, fez acordo com a milícia ao dar licença para as vans através de cooperativas. Não é moralismo. É política. Isso em relação à milícia e em relação aos 20 partidos que ele tem.
As pesquisas mostram que sua campanha é competitiva entre os eleitores mais instruídos e ricos. Por que sua campanha não chegou nas classes populares?
Mais de 70% da minha agenda acontece em bairros populares. Não tem a ver com a renda, mas com acesso à informação. As pessoas que tem maior acesso ficam menos reféns do poder econômico desses grupos. A máquina eleitoral se faz mais forte nos setores mais empobrecidos da sociedade. Mantém a população na pobreza para se alimentar dessa pobreza e fazer seus projetos políticos prevalecerem. Nossa proposta não é elitizada.
O senhor sempre disse que sua campanha também tinha objetivo pedagógico. Mas e o que o senhor aprendeu nessa disputa?
A grande lição foi ver que é possível fazer campanha acima do partido, num grande movimento. A junção de artistas, com jovens e servidores é um movimento espetacular. Uma grande lição é ver como os movimentos sociais, que são refratários a política institucional, se aproximaram e construíram junto.
Campanha sem partido e aliança com a sociedade civil pautaram também as candidaturas da Marina Silva (2010) e do Fernando Gabeira (2008). Foram bem, mas não ganharam...
Sim. É uma construção. São muitos anos de controle pelo poder econômico. Um debate que quero fazer depois da eleição é sobre a reforma política. Para o bem da democracia. Mas esse Congresso não tem condição de fazer a reforma. É preciso convocar uma constituinte para isso.