O candidato do PSOL à Prefeitura do Rio, Marcelo Freixo, comprou briga com a cúpula das escolas de samba e abriu a primeira polêmica da eleição carioca. Freixo defendeu que a Secretaria Municipal de Cultura assuma o controle do carnaval e só transfira recursos para as escolas que tiverem enredos com "contrapartida cultural".
Em entrevista à TV Globo, Freixo citou o caso do Salgueiro, que receberá patrocínio da revista Caras para o enredo "Fama", no desfile do ano que vem. "Que sentido faz a prefeitura patrocinar um enredo sobre a Ilha de Caras?", questionou Freixo na TV, sem citar nomes.
A presidente do Salgueiro, Regina Celi Fernandes, reagiu e lançará, na noite deste sábado, durante o ensaio da escola, um "Manifesto a favor da plena liberdade de expressão". Ela convidou companheiros de todas as escolas a reforçarem o coro dos descontentes.
Marcelo Freixo é crítico dos enredos feitos sob medida para receberem patrocínios privados. Também ataca o atual sistema, em que o desfile é administrado pela Riotur, a empresa municipal de turismo, e a Liga Independente das Escolas de Samba, comandada pelos dirigentes das escolas, alguns ligados ao jogo do bicho. Este ano, cada escola do Grupo Especial recebeu R$ 1 milhão da prefeitura.
Nesta sexta, Freixo pôs mais lenha na fogueira. Depois de negar que sua proposta seja uma forma de censura aos enredos, propôs também mudanças nas regras de venda de ingressos para o desfile e na escolha dos jurados, duas tarefas que cabem à Liesa. "A Liesa não pode substituir o poder público. É um bom debate. Só não aceito a pecha de censura. Não existe dirigismo. As escolas encolhem o enredo que quiserem. Mas qual é a contrapartida? Qualquer edital de qualquer setor da área de cultura que precisa de dinheiro público exige contrapartida cultural. Por que falar isso para as escolas de samba vira escândalo? E tem que ter prestação de contas", disse o candidato.
Freixo elogiou o Salgueiro, "por ter conseguido sobreviver ao jogo do bicho" e disse que poderia ter citado outros exemplos. "Qual é a contrapartida de um enredo sobre iogurte? Eu tenho coragem de travar esse debate", afirmou, em referência ao desfile deste ano da Porto da Pedra, que caiu para o Grupo de Acesso.
Dois candidatos a prefeito, Otávio Leite (PSDB) e Aspásia Camargo (PV), criticaram a proposta de Freixo sobre os enredos. Aspásia falou em "censura prévia" e Otávio Leite considerou "lamentável e autoritária".
No manifesto a ser lançado neste sábado, o comando do Salgueiro critica a "visão dirigista" de Freixo, sem citá-lo diretamente. "Infelizmente há no horizonte uma ameaça potencial à plena liberdade de expressão no Carnaval do Rio. Um candidato a prefeito defende (...) que só devem receber recursos da prefeitura as escolas de samba que tiverem enredos aprovados pela Secretaria de Cultura (...)Quem determinará se um enredo tem ou não "relevância cultural"? Mais uma vez o Carnaval do Rio se vê diante de uma postura autoritária que atenta contra a plena liberdade de expressão", diz o texto.
O presidente da Liesa, Jorge Castanheira, evitou incendiar a polêmica. Afirmou que o carnaval não pode "correr o risco de aventuras" e se disse à disposição de Freixo para esclarecer as dúvidas do candidato. O presidente da escola União da Ilha do Governador, Ney Filardi, divulgou "nota de repúdio" à proposta de Freixo.