Te olho dormindo de lado. É engraçado como não importa se você está em um colchão apertadinho ou em uma cama de casal, você só ocupa meia cama. Sempre encontra um jeito de se deitar de um modo que eu consiga me encaixar perfeitamente ao seu lado. Um convite tentador a uma conchinha já pré-moldada. Aproximo-me do calor que você exala para sentir sua respiração quente em minha nuca. Sua pele morna, quase molhada é uma provocação para eu mandar o resto do mundo a merda e passar o dia encolhida entre seus braços. O despertador virou meu mais íntimo inimigo.
Enquanto velo teu sono imaginando por onde você anda, me pergunto: como foi mesmo que você acabou entrando em minha vida? Foi primeiro uma carona? Um drink? Um convite, um beijo, uma foda. Uma mensagem, um sorriso. Aí você esqueceu a blusa em casa. Aí você resolveu deixar a blusa em casa. Deixou também uma camisa. E quando a sua escova de dente encontrou espaço no armário do meu banheiro, aí já estava feito. Veio junto barbeador, chinelo, pijama, livro de cabeceira, carregador de celular, trava da moto, chave extra de casa, bomba para asma, lentes de contato, desodorante e shampoo anti-caspa. Conquistou uma gaveta para chamar de sua no meu criado-mudo. Era a sua constante presença em meus pensamentos, em meu dia-a-dia, em minha vida, tomando forma física.
E sabe que, às vezes, a gente responde com um instinto brusco quase natural ao estímulo dessa presença estranha em nosso habitat. Reclama da toalha em cima da cama como se fosse o fim do mundo, da tampa da privada levantada como se fosse um desaforo, das cuecas penduradas no armário como se representassem um ultraje. O que não percebemos é que a implicância com a presença pode ser o medo da ausência. Porque eu estava feliz e tranquila antes de você chegar. Porque eu nunca precisei de nada e nem de ninguém para levar a minha vidinha em paz. Porque eu já não consigo mais imaginar você fora de mim.
É praticamente uma defesa natural contra traumas passados. Quem nunca viu alguém que se ama partir, dar as costas e sumir no mapa? É que tem pessoas que passam na vida da gente, fazem uma participação especial e nunca mais voltam. Apagam seu rastro, simplesmente somem. O fato de permanecerem inalcançáveis é que parece nos deixar com mais saudade ainda. E saudade só é boa quando acaba. E eu não quero sentir saudade de ti.
O Blog do Guilherme Araújo é um canal de jornalismo especializado em politicas publicas e sociais, negócios, turismo e empreendedorismo, educação, cultura. Guilherme Araújo, CEO jornalismo investigativo - (MTB nº 79157/SP), ativista politico, palestrante, consultor de negócios e politicas publicas, mediador de conflitos de médio e alto risco, membro titular da ABI - Associação Brasileira de Imprensa.
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