O último dia de desfiles da São Paulo Fashion Week vai começar hoje em um ferro-velho. O cenário é o caos. Corredores amplos e iluminados do prédio da Bienal projetado por Oscar Niemeyer, no Parque do Ibirapuera, zona sul, serão trocados por caminhos tortuosos, entre montanhas de sucata - há até vagões de trem, sobre os quais três modelos vestidos de anjos ficarão à espera do público.
Conhecido por sempre realizar desfiles em lugares inusitados - até a margem do Rio Tietê já virou cenário em 2008 -, Alberto Hiar, dono da marca Cavalera, desta vez escolheu o espaço da Cicloaço, uma empresa na Mooca, zona leste. "A reciclagem é um tema atual", justifica ele, que teve a ideia porque costuma passar em frente do ferro-velho.
A Cavalera não é a única marca que costuma tirar o público da tradicional sala de desfiles (veja abaixo), mas é a que mais lança mão desse tipo de estratégia. Ontem, uma equipe de cem pessoas se espalhou pelo terreno de 7 mil m² para arrumar a sucata de uma forma, digamos, plástica. De camiseta regata e bermuda, Wan Vieira, diretor do desfile, estava à vontade. No pátio da Cicloaço, movimentava-se entre escavadeiras, guindastes e eletroímãs - máquinas bem barulhentas que estarão funcionando quando o público chegar hoje. "Teremos ao menos três funcionando para dar um clima", antecipa o diretor que, nesta temporada da São Paulo Fashion Week já assinou os desfiles de Adriana Degreas, Paula Raia e Fause Haten.
Funcionário do ferro-velho, o pernambucano Isac da Rocha, de 57 anos, estará no comando de uma das máquinas. "Vai ser o primeiro desfile da minha vida", contou, orgulhoso.
Quando começar o show, as máquinas vão parar para que o público ouça a trilha sonora. Metamorfose Ambulante, de Raul Seixas, e Me Chama que Eu Vou, de Sidney Magal, que foi tema da novela Rainha da Sucata, da TV Globo, são algumas das músicas escolhidas para dar o clima do desfile. O resto ficará por conta dos 50 modelos, que, para não se machucarem no cenário, entrarão de salto baixo.